sábado, 30 de abril de 2011

Brasil e Argentina: Quem vence?

Na postagem anterior, citei a rivalidade entre Brasil e Argentina. Mas o que muitos estrangeiros, com os quais converso, não entendem é que essa rivalidade é quase sempre amigável. Digo “quase sempre” porque em toda regra há exceções.

De qualquer modo, a rivalidade Brasil-Argentina se dá muito mais no campo de futebol. Fora isso, somos povos irmãos, cooperando para o desenvolvimento regional a partir do Mercosul, juntamente com outros hermanos do Continente.

Mas se fôssemos colocar no papel, quem levaria a melhor?

Argentina:
- Melhor doce de leite, melhor alfajor e melhor media luna;
- Melhor bife de chorizo;
- Melhor tango;
- A Argentina tem pista de esqui;
- Melhor IDH comparado ao do Brasil;
- Cinco laureados com o prêmio Nobel;
- Vinte e dois títulos da Liberdadores, contra 14 do Brasil;
- Duas vezes vencedora do Oscar;

Brasil:
- Melhor quindim, melhor cocada e melhor brigadeiro;
- Melhor e mais famoso churrasco do mundo;
- Melhor samba;
- O Brasil tem os dois maiores parques aquáticos da América Latina;
- Maior PIB da América do Sul e 7º maior do mundo;
- Nenhum laureado com o Nobel, mas algumas indicações importantes, dentre as quais: o Marechal Cândido Rondon, os irmãos Villas-Boas (indicação de Claude Levi-Strauss) e o ex-presidente Lula;
- Cinco vezes campeão da Copa do Mundo, contra apenas 2 títulos argentinos, sendo que um deles a Argentina levou jogando em casa;
- Nenhum Oscar, mas vários prêmios em festivais de cinema internacional – que, em minha opinião, são mais respeitáveis e imparciais do que o Oscar;
- Melhor classificação no quadro geral de medalhas na história dos Jogos Olímpicos. O Brasil ocupa a 36ª posição, a Argentina está em 37º;
- E o mais importante (eu já ia me esquecendo): O Brasil é o único país da América do Sul a ter um representante no Street Fighter.


Blanka era o Anderson Silva dos anos 90.


Não importa de quem você goste mais, o que vale é saber valorizar o que há de melhor nessas duas nações. Os argentinos são nossos vizinhos e parceiros comerciais. Culturalmente falando, temos muito em comum e nossos países possuem histórias semelhantes. Meta para o futuro: fortalecer o Mercosul e levá-lo a todos os países da América Latina.

Tanto dentro da América do Sul quanto fora, o Brasil ocupa hoje uma posição privilegiada: de um lado o Mercosul, de outro o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
E quem liga se o nosso futebol atualmente anda mal das pernas? Ainda podemos tirar sarro dos argentinos dizendo que somos emergentes do BRIC e eles não.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Índia: berço esplêndido de cultura milenar

Eu adoro várias coisas na cultura indiana, dentre elas cito: a yoga (exercícios), o Bhagavad Gita (livro), o curry (tempero), a cítara e a tabla (instrumentos musicais), os filmes de Bollywood, o Taj Mahal e várias outras mais.


Taj Mahal

Na Antiguidade, a Índia legou ao mundo uma matemática avançadíssima. Durante as Grandes Navegações, a Índia abasteceu o ocidente com seus temperos (especiarias). Atualmente, a Índia ainda conserva uma cultura milenar, em contraste com o seu alto grau de desenvolvimento econômico, sendo o 4º maior PIB do mundo (em Paridade Poder de Compra).

É um país com mais de 1 bilhão e 200 milhões de habitantes, possui 23 línguas reconhecidas como oficiais e abriga praticamente todas as religiões do mundo.

O empresário indiano Lakshmi Mittal, presidente da Arcelor Mittal, é o sexto homem mais rico do mundo. Eike Batista é o oitavo.

Mas apesar dessa riqueza e diversidade cultural, algumas coisas tipicamente indianas ainda se apresentam como notícias estranhas aos olhos ocidentais.

Em 2011, a Índia sediou (em conjunto com Bangladesh e Sri Lanka) a Copa do Mundo de Críquete. A final ocorreu em 2 de abril e a Índia se sagrou campeã sobre o Sri Lanka, uma partida sem dúvida emocionante!

Além da paixão pelo futebol e da rivalidade com a Argentina (o que é exclusivo do Brasil), brasileiros e indianos têm muito em comum. Ambos os povos...

É...

... Bem, a única coisa de que me lembro agora é que a manga cultivada há tanto tempo no Brasil foi originalmente trazida da Índia por colonos portugueses (mas deve haver mais coisas em comum entre essas grandes nações).


Repare neste vídeo clipe indiano:



O filme foi realmente rodado no Rio de Janeiro, apesar de (às vezes) não parecer. A prova disso é a tomada feita no Cristo Redentor. Mas se fosse um jogo dos 7 erros, dois erros seriam muito evidentes:
1- O galã do clipe usa um lenço rosa na cabeça, coisa que no Brasil não é lá tão comum (mas essa passa).
2- Este é o pior: a atriz protagonista usa uma canga de praia... na praia! E não se vê nenhuma garota de fio-dental! Encaro isso como uma afronta à tradição brasileira, em especial à carioca.

Mas apesar desse vídeo ofensivo à moral e bons costumes brasileiros, não vale a pena declarar guerra à Índia. Afinal, os indianos são nossos colegas de BRIC, além de ser um povo alegre e dançante como o brasileiro (aqui, estão vendo?... lembrei de mais coisas que temos em comum com eles). Por fim, não vale a pena declarar guerra aos indianos porque eles têm bomba atômica e nós não.

Namastê.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Divina Comédia Brasileira


Dante e Virgílio prestes a entrar no inferno...

 

Dante: "Tais palavras vi escritas ao alto de uma porta".



Hospital público e INSS




terça-feira, 26 de abril de 2011

Ode ao vagabundo






Vejo o olhar triste e profundo,
Vejo os olhos do vagabundo.

No horizonte, silhueta ao fundo,
Despeço-me do vagabundo.

Ele sempre foi mudo,
Mas não era calado -
Uma vez falou ao mundo
Sobre sua esperança.
(Apesar de ser adulto
tinha sonhos de criança).

Um pobre palhaço
Sem nariz de plástico.
Um nobre vagabundo
Com talento único.

Ele sempre fez sorrir,
No circo ou na cidade -
Luz a fulgir -
Nos olhos da sociedade.

Trabalhando ou discursando
Num filme preto e branco
Foi-se o vagabundo
Das ruas para o mundo.

domingo, 24 de abril de 2011

Beija Eu (poema visual)

Um tema bem leve para a postagem de domingo: o egocentrismo.

Poema visual, inspirado na canção Beija Eu, gravada por Marisa Monte. Compus este refletindo sobre a canção, por isso, sugiro ouvir a canção ao ler o poema.


sábado, 23 de abril de 2011

Trovadorismo

Apresento aqui um vídeo editado por mim. A edição é amadora, feita sem recurso, mas acho que o vídeo é válido pela música e pela poesia.

Composição de Martim Codax
Executada pelo Grupo Universitario de Cámara de Compostela

Maiores detalhes sobre a composição podem ser obtidos no próprio vídeo.

Cantiga de amigo, poesia medieval galego-portuguesa:


Assim como as demais cantigas da mesma época, esta é cantada no antigo idioma galaico-português. Raramente temos a oportunidade de ouvir uma cantiga medieval trovadoresca sendo executada com canto e instrumentação. Aproveitem!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Textos publicados: 2 poemas e dissertação

Hoje quero apresentar um blog que teve a gentileza de postar um poema de minha autoria que foi escrito e publicado em 2009.

O blog se chama Plástico Bolha, lá vocês encontrarão vários poemas, dentre eles o meu, e links para outros blogs amigos do Plástico, dentre eles o Interlúdico.

Aqui vai o atalho para o Plástico Bolha:

http://jornalplasticobolha.blogspot.com/2009/01/defesa-do-amor-de-cleo-e-toni.html

O link acima os levará direto ao meu poema.

O Plástico Bolha pode ser acompanhado em duas versões: blog ou jornal impresso. Ambos tratam de literatura contemporânea. Mais detalhes poderão ser obtidos no blog do Plástico.


Outro poema de minha autoria, também publicado em 2009, pode ser encontrado no endereço a seguir:

http://www.poetas.capixabas.nom.br/Poetas/detail.asp?poeta=Renan%20Mendon%E7a%20Ferreira 

Esse poema faz parte da coletânea Escritos de Vitória número 26. O ghazal é uma forma de poema típica de países árabes, composto de dísticos, com métrica fixa e rima anteposta ao refrão. Tradicionalmente, o ghazal trata do amor religioso, da busca pelo ideal superior, por isso escolhi esse tipo de composição, numa tentativa de expressar o sentimento de alguém que se busca e se encontra na cidade de Vitória.


Finalmente, posto aqui o link para a minha dissertação de mestrado, disponível na página da Ufes. A dissertação, cujo título é Conteúdos Temáticos e Ideológicos em Augusto dos Anjos, pode ser salva e lida no formato pdf, no endereço abaixo: 
http://www.ufes.br/ppgl/pdf/Renan_Mendonca_Ferreira.pdf 


Nesse trabalho, há um capítulo dedicado às pulsões psicanalíticas e um outro que trata da angústia do eu lírico augustiano. A morte, como tema recorrente em Augusto dos Anjos, também é assunto abordado durante toda a dissertação, bem como o misticismo e a religiosidade presentes na obra do poeta. A dissertação foi apresentada e aprovada em 28 de fevereiro de 2011. Aos que se interessam nesse tipo de estudo e temáticas, faço um convite à leitura.


Agradeço a todos que seguem o Interlúdico ou que o acompanham regularmente, valeu a força! O meu obrigado também aos visitantes, brasileiros e portugueses (e aos de outras nacionalidades, quando houver), sejam todos bem-vindos a este blog.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Por que? Porque...

Quem já leu a descrição do meu perfil, já deve ter reparado que eu sou de fases. Hoje, por exemplo, não estou num bom dia para escrever. Mas falando em “descrição do perfil”, quem acompanha este blog já deve ter entendido o significado de seu título: Interlúdico.

Por que Interlúdico? No dia em que fiz o blog, não tinha ideia do nome que daria a ele. Enquanto pensava e descartava vários nomes ridículos que vinham à mente, olhava ao meu redor tudo o que me cercava. Por acaso havia um livro de Fernando Pessoa na mesa do computador, de frente para mim. O livro estava de cabeça para baixo, seu título: Ficções do Interlúdio.

Daí veio a sacada para o nome do blog. A partir de “interlúdio” pensei no neologismo “interlúdico”, fazendo um trocadilho com as palavras “interação” e “lúdico”.

Bem, se havia alguma dúvida quanto ao título do blog, agora não há mais. Espero que com isso eu não tenha desfeito o encanto, a magia, o mistério por trás do nome. Pretendo ficar com este blog por bastante tempo, não sei se é bom negócio revelar os “segredos” assim já nos primeiros capítulos desta novela.

Eu poderia ter dito que tive uma visão de um homenzinho voando numa torta flamejante... Mas isso já foi usado antes por outra pessoa.

Como também sou novo nesse negócio de blog, não custa dizer:
Como seguir o blog? Basta ter uma conta no Google (Orkut, Gmail etc).
Quem pode comentar no blog? Qualquer um pode comentar, não é preciso ter conta.

Abraço e Boa Páscoa (i.e.: feriado) a todos!

Como diz um amigo meu: “Esta é a época de fazer o grande sacrifício de não comer carne por um dia, e no lugar disso, comer uma deliciosa torta capixaba, acompanhada de cerveja ou vinho” – o sarcasmo é horrível, eu sei, mas a crítica é válida.

Continuarei postando aqui durante a Semana Santa.
Até a próxima!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Frases de amor

Todos os anos são divulgadas as “pérolas dos estudantes” ou as “pérolas do ENEM”. A lista é vorazmente aguardada por internautas, jornalistas, blogueiros e curiosos de plantão. Mas o que em muitos provoca riso, deveria despertar mais preocupação.

A reação do riso, nesses casos, é uma autodefesa, uma forma de não se ver implicado no caos da educação. Mas a verdade é que todos nós, como cidadãos, somos responsáveis pela educação, e se ela falha, toda a sociedade falhou com o seu papel.

A educação virou motivo de piada? Não, é mais fácil rir do que corrigir o sistema. Isso é preocupante, porque o Brasil, hoje a sétima economia mundial, atravessa um momento inédito na sua história, um índice de crescimento exclusivo de países do BRIC. Mas como manter esse crescimento de forma sustentável? Sem investimento em pesquisa, esse dever de casa se torna impossível. Daí a importância da melhoria de nossas universidades.

Mas a educação é como uma receita de pudim, não se pode priorizar a qualidade de apenas um ingrediente, porque todos eles são igualmente importantes. A universidade deve estar bem, o ensino médio deve estar bem, o profissionalizante também, o fundamental também, o infantil idem e a alfabetização de adultos a mesma coisa. Não se deve priorizar um em detrimento dos outros, pois todos eles são partes relevantes de um mesmo sistema. Infelizmente, o que acontece é o oposto. Cada governo foca apenas em uma parte, naquela que julga mais interessante para o momento, como se as partes não compusessem um todo.

O estudante se sente como no jogo do Mario, pulando de fase em fase, como se o objetivo da vida fosse passar por cada fase, ao invés de aprender em cada uma delas. O professor se sente refém, de mãos atadas perante a violência nas escolas, o investimento precário e sua jornada penosa.

Também é errado priorizar determinadas áreas do conhecimento em detrimento de outras. Construção civil, petróleo, medicina, esporte... são coisas importantes, mas pintura, literatura, música, filosofia... têm igual importância (na educação, no mercado de trabalho e na vida pessoal). O Brasil já produziu vários Rogério Ceni, Kaká e Ronaldinhos nas mais diversas disciplinas. Alberto Santos Dumont foi o Pelé da aviação! Todos os outros que dizem ter voado, não possuem provas que atestem o fato, apenas Santos Dumont comprovou seus feitos e passou adiante sua invenção. Osvaldo Cruz e Carlos Chagas foram alguns dos maiores artilheiros da pesquisa epidemiológica brasileira. O primeiro por ter comprovado que as doenças tropicais não eram causadas em decorrência da miscigenação de raças, como se pensava, mas por micro-organismos transmitidos pelos mosquitos. Já o segundo por ter descrito completamente uma doença infecciosa. E o que dizer de Oscar Niemeyer? Com que tática ele desenha! E Oswaldo Aranha, o primeiro diplomata a discursar na primeira sessão da ONU, um gol de placa! E Chico Mendes, e os irmãos Villas-Boas, e o marechal Cândido Rondon? Zagueiros da ecologia e do indianismo! E Augusto Ruschi, autoridade mundial em beija-flores e orquídeas, foi um dos primeiros homens a denunciar os efeitos danosos do DDT, a enfrentar a ditadura militar e denunciar o início da derrubada da Floresta Amazônica, a prever a escassez de água no mundo, a prever o aquecimento global, a denunciar o efeito danoso da agricultura em larga escala.... Atribui-se ao brasileiro a ideia original das reservas ecológicas como espaços de preservação de espécies (obrigado, Wikipedia, por essa!).

O que falta na educação hoje para que o Brasil produza outro Augusto Ruschi, outro Oscar Niemeyer, outro José de Alencar, outro Machado de Assis, outra Tarcila do Amaral, outro Heitor Villa-Lobos, outro Tom Jobim? O Rock in Rio vem aí, atraindo turistas brasileiros e estrangeiros. Mas o que o rock nacional de hoje tem para mostrar nesses palcos?

É claro que as “pérolas” das provas estudantis não são o real problema, mas são um sintoma que merece preocupação, não gargalhadas. É passada a hora da sociedade deixar de exercer esse papel infernal de paparazzo de estudante (atualizando Foucault). A família e a comunidade devem participar ativamente da educação de crianças e jovens. E nas palavras da presidenta eleita: “professoras e professores são a verdadeira autoridade da educação” – infelizmente, eles perdem a luta para os burocratas e paparazzi infiltrados nas escolas do país.

Há mais de 2 mil anos, Platão sonhou com uma República comandada por filósofos. Espantoso ver hoje como a vontade de uns burocratas da educação tornou esse sonho tão distante! Porém, ainda assim, possível. Para não me alongar mais, deixo este pensamento para a véspera do feriadão:

“Quem ama, educa”.
(Içami Tiba)

domingo, 17 de abril de 2011

Estrangeiro no mundo

Fui cortar o cabelo. Enquanto cada cacho no chão caia, compus esta elegia, que agora transcrevo:


A cada gentil alma que por aqui passar,
A atenção pedirei urgente
Com laivos platonicus et dantescus evidentis.

Não te enganes, nem por um minuto:
Tu és estrangeiro neste mundo,

Não é teu lar a Terra,
Morada efêmera,
Onde a carne Ela encerra.

Abre-te!
Aprende a língua mágica,
sem palavras, sem gramática.

Vieste recordar-te disto:
Pessoas, coisas e lugares
nunca vistos.

Cuida da matéria,
Mas não te apega,
Conhece-te a ti mesmo em ideia.

E disto estejas consciente:
Trabalha unicamente
P’ra pagar comida e estadia.

Tu a psique cinge,
Nada levarás
Ao tornares
À mansão d’onde vindes.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saudosismo na pós-modernidade?

Estou com um monitor novo, formato widescreen. Não sei se é do meu limitado conhecimento de informática ou se é do monitor, mas minha impressão é que o widescreen distorce algumas imagens.

Dizem que eu tenho que me acostumar com isso, afinal, daqui a pouco tempo só existirão monitores no formato widescreen. Mas acostumar com um mundo distorcido? Vejo as imagens esticadas, retratos rechonchudos de uma realidade distorcida...

Adaptar-me a isso não seria também distorcer-me?

Talvez eu seja muito conservador, saudosista e tudo mais, senti o mesmo quando tive que mudar de VHS para DVD. Quantos filmes perdi! E quando mudei de K7 para CD, foi a mesma odisseia. Até pouco tempo atrás eu resistia ao celular, agora estou com um touchscreen, mas tiveram que me amarrar para me convencerem de que isso seria para o meu próprio bem.

Ah, como é difícil procurar “pistas” quando se ouve Beatles em MP3 e não mais em LP.

Obs: Se você nasceu nos anos 90, vá a uma biblioteca e procure numa enciclopédia Barsa os significados dos termos alienígenas supracitados.

Será que as velhas gerações já se deram conta de que os telefones atuais não possuem mais aquele disco com números? Pergunto isso sempre que alguém diz “disque 0800” ou quando vejo incontáveis anúncios de disk-pizza, disk-entrega, disk-ingressos etc.

Acho que a informática tornou concreto o sonho de Diderot, o idealizador da enciclopédia. A internet possibilitou um avanço enorme no campo da comunicação, de forma gratuita e mais democrática. A Wikipedia, sem fins lucrativos, armazena um oceano de informações (em vários idiomas) e as disponibiliza a todos internautas. Quem faz a Wikipedia são outros internautas e cada leitor munido de senso crítico julga se a informação disponível ali é útil ou não.

Hoje todos escrevem (e publicam) alguma coisa: blog, twitter; ou participam de fóruns on line; criam comunidades no Orkut, facebook etc...

O jornalismo está se adaptando ao novo paradigma, agora a notícia recebe comentário instantâneo da audiência, ou seja, não há mais monólogos, há uma via de mão dupla. O You Tube em minha opinião já superou a televisão de longe!  O mesmo digo das rádios on line, cada uma com repertório específico. Já ouvi uma rádio do Paquistão que toca apenas música típica daquele país, outra da Índia que toca apenas trilhas sonoras de filmes de Bollywood e outra que toca apenas música religiosa hindu. Há no Winamp uma rádio que toca apenas Beatles, outra que toca apenas anos 80, outra que é especializada em música nativa americana (música de índios da América do Norte) e por aí vai. Mesmo sem querer, a informática revolucionou o modo de se consumir música na pós-modernidade, ela criou nichos de mercado cada vez mais específicos.

Enfim, a internet é um oceano, não importa o quanto o internauta navegue, a linha do horizonte sempre vai parecer distante. Mas o mesmo pode-se dizer da vida. A vida é um oceano, não importa quantos anos um sujeito navegue nos mares da vida, ele jamais saberá tudo sobre o mar (a vida). Então, a atitude mais sensata parece ser aquela que diz “nem tanto ao mar, nem tanto a terra”. Navegar é preciso, é útil, é divertido, mas também é importante dedicar algumas horas do dia ao nadismo: nada de computador, nada de celular, nada de televisão, nada de obrigação... Um tempo para se fazer absolutamente nada. Um tempo para meditar e sentir a vida fluir no sangue, sentir-se mais humano e menos máquina, mais real e menos virtual; mais sólido, menos distorcido.

A pós-modernidade nos mostra como as coisas simples, tais como fazer nada, são necessárias! Não é saudosismo, é um retorno à lucidez.

4ª postagem (mais de Bocage)

A poesia é uma das minhas muitas paixões (a maioria delas, não correspondidas). A música, por exemplo, é outra de minhas paixões, mas ela parece me odiar. Por que, oh, música, desprezaste a minha voz?

Desde que desisti de ser cantor comecei a usar mais a voz mental e silenciosa do pensamento. É precisamente esta voz que uso para escrever. Observe que nem tudo são tormentas. Mas e se eu tivesse sido um jogador de futebol sem talento, haveria um pé mental para substituir o dom negado?

Falando em tormentas, mencionei na postagem anterior a humilhação pela qual Bocage provavelmente passou em sua estadia na prisão. Mas como na vida nem tudo são tormentas, também na vida do poeta houve mar de rosas.

O epitáfio de Bocage, cujos últimos versos dizem:

“Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".

Deixa claro duas coisas: 1- Bocage sofreu, mas também colheu os louros da fama; e 2- Bocage era bem desbocado (já no século XVIII).

Já o “Soneto do membro monstruoso” (também de Bocage) não citarei aqui para não assustar as minhas respeitáveis leitoras.

Mas, por favor, não julguem mal o poeta. Um homem cuja musa inspiradora se casou com seu próprio irmão (irmão de Bocage, não dela), tem razões justificáveis para ser desbocado.

Bocage era um poeta de pelo menos duas faces: uma satírica e outra muito séria (e sofrida). Vale a pena conhecer os outros sonetos de Bocage, lê-los significa romper com a imagem (senso comum) do poeta estritamente burlesco. Bocage possui uma produção muito respeitável que não pode ser ofuscada por rótulo nenhum.

Fica a dica literária desta semana.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Terceira postagem: Meu lado brega.

Woody estava certo! Acordei de bom humor e acho que daqui a dois dias poderei rir de pessoas que ouvem música alta, no meio da madrugada, embaixo de sua janela.

Aviso: Talvez a partir desta terceira postagem eu deixe de incluir esses numerais ordinais (primeira, segunda, terceira...) nos títulos dos textos; por isso não estranhe, faz parte da minha mania de desorganização.

Hoje gostaria de compartilhar com os meus... dois leitores o que consideraria a minha face mais brega: a de poeta. Não que eu considere a poesia algo brega, muito pelo contrário, mas é que eu considero a minha produção poética um tanto, como direi... brega? Deixo ao julgamento dos meus fiéis (dois) leitores que me acompanham desde quando estreei meu blog.

O poema que postarei aqui foi inspirado no mais conhecido soneto de Camões.  Infelizmente, dada a correria frenética dos tempos atuais, muitas pessoas não leram o soneto original de Camões, mas para encurtar a história, trata-se daquele poema que Renato Russo cantava na canção intitulada Monte Castelo. A diferença do soneto de Camões para a canção Monte Castelo são os versos que Renato Russo acrescentou, versos estes que foram retirados da Bíblia (1 Coríntios 13).

Há duas principais diferenças entre o meu soneto e o de Camões:
1- O de Camões fala do amor erótico, carnal: a paixão. Já o meu soneto fala do amor fraternal, espiritual: a compaixão.
2- O soneto de Camões é realmente um soneto. O meu é uma tentativa, mas mesmo assim, espero que gostem:


Soneto do amor

O amor é um Deus que habita no Homem;
É um materno toque no cuidar;
É um pai que ajuda a levantar;
É a saudade do hoje e de ontem;

É bem querer a outrem como a si;
É divino se dar ao perdoar;
É o ser livre no ato de servir;
É impor disciplina ao educar;

É dar tempo, mas nunca ser ausente;
É a única forma de conhecer;
É cativar sem ter que dar presente;

É ajuda que se dá sem receber;
É ser um mestre em ver os próprios erros;
É praticar esse Deus no viver.


Outro grande poeta, Bocage (o primeiro é Camões, não eu), escreveu um soneto em homenagem a Camões, o qual reproduzirei aqui sua última estrofe:

“Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza”.

Bocage estava aí comparando o seu fado, seu duro destino, aos infortúnios pelos quais Camões passara em vida. Mas com muita elegância, Bocage considerava-se inferior a Camões nos “dons da Natureza”, ou seja, na arte de fazer poesia.

Realmente, ambos os poetas tiveram em vida muitas desventuras. Camões perdeu um olho em batalha; Bocage, desconfio eu, tenha tido violado o seu terceiro olho enquanto era torturado na masmorra. Isso foi o que interpretei do soneto de Bocage “Em Sórdida masmorra aferrolhado”, quando diz “Os membros quase nus, o aspecto honrado/ Por vil boca e vil mão, roto e cuspido” e mais adiante menciona “O penetrante, o bárbaro instrumento (...) já na mão do algoz cruento”.

Acredito que as adversidades da vida tenham feito de Camões, Bocage (e Renato Russo) grandes poetas. Se for assim, fico agradecido e aliviado por eu não ser um grande poeta. O preço da arte é muito alto quando o seu “aspecto honrado” se vê violado por um “penetrante, bárbaro instrumento”.

O meu “aspecto honrado” eu o descreveria em linguagem de informática: é periférico só de saída, nunca de entrada!

Segunda postagem: O tragicômico


Saudações aos leitores (ora, você de novo?!),

Nesta segunda postagem vou abordar um tema que tem despertado minha curiosidade: a essência da comédia. Afinal, por que a comédia só é possível a partir do sofrimento alheio?

Vou começar parafraseando uma fala de um filme de Woody Allen.

Observação: A paráfrase aqui é o recurso que eu utilizo por não ser capaz de me lembrar da fala exatamente como era. E se eu não fosse acometido pelo mau da preguiça, veria o filme de novo para reproduzir aqui uma citação e não uma paráfrase.

De qualquer modo, no filme intitulado Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors, 1989), um personagem dizia que a diferença entre a tragédia e a comédia é o tempo. Por exemplo, neste exato momento me parece muito trágico que, às 00h36min, um casal esteja embaixo da minha janela ouvindo funk NA MAIOR ALTURA, a partir de um maldito telefone celular! Mal consigo me concentrar no que estou escrevendo! Porém, amanhã pode ser que essa situação me pareça cômica (será?). Portanto, a passagem do tempo teria a capacidade de transformar as impressões negativas, que sentimos durante um momento trágico, em impressões amenas e até cômicas. O tempo cura!

Mas neste momento me parece impossível rir dessa situação. Eu aqui tentando escrever no aconchego da madrugada e alguém rompe com o silêncio sagrado dessa hora tão deliciosamente solitária. Malditos celulares!

Bom, por hoje chega!!! Amanhã, se meu humor melhorar, haverá mais textos.
(Espero que Woody Allen tenha razão).

A primeira postagem (Uau!!!).

Nesta minha primeira postagem, vou explicar a razão que me levou a criar um blog:
Não há razão (pelo menos não que eu saiba explicar).

Mas não desanime, amigo leitor.
Terei a satisfação de sua visita na minha segunda postagem?