sexta-feira, 15 de abril de 2011

Saudosismo na pós-modernidade?

Estou com um monitor novo, formato widescreen. Não sei se é do meu limitado conhecimento de informática ou se é do monitor, mas minha impressão é que o widescreen distorce algumas imagens.

Dizem que eu tenho que me acostumar com isso, afinal, daqui a pouco tempo só existirão monitores no formato widescreen. Mas acostumar com um mundo distorcido? Vejo as imagens esticadas, retratos rechonchudos de uma realidade distorcida...

Adaptar-me a isso não seria também distorcer-me?

Talvez eu seja muito conservador, saudosista e tudo mais, senti o mesmo quando tive que mudar de VHS para DVD. Quantos filmes perdi! E quando mudei de K7 para CD, foi a mesma odisseia. Até pouco tempo atrás eu resistia ao celular, agora estou com um touchscreen, mas tiveram que me amarrar para me convencerem de que isso seria para o meu próprio bem.

Ah, como é difícil procurar “pistas” quando se ouve Beatles em MP3 e não mais em LP.

Obs: Se você nasceu nos anos 90, vá a uma biblioteca e procure numa enciclopédia Barsa os significados dos termos alienígenas supracitados.

Será que as velhas gerações já se deram conta de que os telefones atuais não possuem mais aquele disco com números? Pergunto isso sempre que alguém diz “disque 0800” ou quando vejo incontáveis anúncios de disk-pizza, disk-entrega, disk-ingressos etc.

Acho que a informática tornou concreto o sonho de Diderot, o idealizador da enciclopédia. A internet possibilitou um avanço enorme no campo da comunicação, de forma gratuita e mais democrática. A Wikipedia, sem fins lucrativos, armazena um oceano de informações (em vários idiomas) e as disponibiliza a todos internautas. Quem faz a Wikipedia são outros internautas e cada leitor munido de senso crítico julga se a informação disponível ali é útil ou não.

Hoje todos escrevem (e publicam) alguma coisa: blog, twitter; ou participam de fóruns on line; criam comunidades no Orkut, facebook etc...

O jornalismo está se adaptando ao novo paradigma, agora a notícia recebe comentário instantâneo da audiência, ou seja, não há mais monólogos, há uma via de mão dupla. O You Tube em minha opinião já superou a televisão de longe!  O mesmo digo das rádios on line, cada uma com repertório específico. Já ouvi uma rádio do Paquistão que toca apenas música típica daquele país, outra da Índia que toca apenas trilhas sonoras de filmes de Bollywood e outra que toca apenas música religiosa hindu. Há no Winamp uma rádio que toca apenas Beatles, outra que toca apenas anos 80, outra que é especializada em música nativa americana (música de índios da América do Norte) e por aí vai. Mesmo sem querer, a informática revolucionou o modo de se consumir música na pós-modernidade, ela criou nichos de mercado cada vez mais específicos.

Enfim, a internet é um oceano, não importa o quanto o internauta navegue, a linha do horizonte sempre vai parecer distante. Mas o mesmo pode-se dizer da vida. A vida é um oceano, não importa quantos anos um sujeito navegue nos mares da vida, ele jamais saberá tudo sobre o mar (a vida). Então, a atitude mais sensata parece ser aquela que diz “nem tanto ao mar, nem tanto a terra”. Navegar é preciso, é útil, é divertido, mas também é importante dedicar algumas horas do dia ao nadismo: nada de computador, nada de celular, nada de televisão, nada de obrigação... Um tempo para se fazer absolutamente nada. Um tempo para meditar e sentir a vida fluir no sangue, sentir-se mais humano e menos máquina, mais real e menos virtual; mais sólido, menos distorcido.

A pós-modernidade nos mostra como as coisas simples, tais como fazer nada, são necessárias! Não é saudosismo, é um retorno à lucidez.

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