domingo, 29 de maio de 2011

Cronologia: filósofos mais importantes da Antiguidade à Idade Média


Esta é uma lista com os nomes dos filósofos que viveram entre a Idade Antiga e a Idade Média (pré-renascentista). A lista contém data e local de nascimento. Em alguns casos é interessante notar que o real local de nascimento contradiz o senso comum.

 
Séc. VII a.C. Zoroastro (Zaratustra) - o profeta nasceu na Pérsia.
No século V a.C. surge o Avesta (coletânea das escrituras mais antigas do Zoroastrismo).

624 a 558 a.C. Tales - de ascendência fenícia nasceu em Mileto, antiga colônia grega na Ásia Menor (atual Turquia).

609 a 546 a.C. Anaximandro - natural de Mileto (atual Turquia).

585 a 528 a.C. Anaxímenes - natural de Mileto (atual Turquia).

570 a 597 a.C. Pitágoras - Ilha de Samos (atual Grécia).

570 a 460 a.C. Xenófanes - nascido na cidade de Cólofon, na Jónia (atual costa ocidental da Turquia).

563 a 483 a.C. Sidarta Gautama - o Buda original é natural de Lumbini (atualmente Nepal).

551 a 479 a.C. Confúcio (Kung-Fu-Tse) - nasceu em Qufu (China).

Lao zi (Lao Tze) - não tem data conhecida, mas nasceu na China, na província de Na Hue. Segundo a tradição taoísta, ele é o autor do Tao Te Ching. Alguns consideram que ele foi contemporâneo de Confúcio.

544 a 496 a.C. Sun Tzu - autor de A Arte da Guerra, nasceu em Qi (China).

540 a 470 a.C. Heráclito - o pai da dialética, nasceu em Éfeso, na Jônia (atual Turquia).

530 a 460 a.C. Parmênides - precursor do racionalismo, nasceu em Eléia, (hoje Vélia, Itália).

500 a 428 a.C. Anaxágoras - nascido em Clazômenas, na Jônia (atual Turquia).

495 a 430 a.C. Zenão - discípulo de Parmênides, nasceu em Eléia (hoje Vélia, Itália).

495 a 430 a.C. Empédocles - nativo de Agrigento (hoje uma comuna da Sicília, sul da Itália).

480 a 375 a.C. Górgias - sofista, nativo de Lentini (atual Sicília, sul da Itália).

480 a 410 a.C. Protágoras - sofista, nativo de Abdera (Grécia).

469 a 399 a.C. Sócrates - nasceu em Atenas (Grécia).

470 a 391 a.C. Mozi - fundador do Moísmo (China).

460 a 370 a.C. Demócrito - atomista, natural de Abdera (Grécia).

460 a 377 a.C. Hipócrates - o pai da medicina ocidental, é natural de Cós (Grécia).

444 a 365 a.C. Antístenes - discípulo de Sócrates, fundador do Cinismo - Atenas (Grécia).

435 a 356 a.C. Aristipo - discípulo de Sócrates, fundador do Cirenaísmo - nasceu em Cirene, antiga colônia grega no norte da África (atualmente na Líbia).

428 a 347 a.C. Platão - discípulo de Sócrates  - Atenas (Grécia).

413 a 323 a.C. Diógenes - discípulo de Antístenes - Sinop (hoje na Turquia).

Séc. IV a.C. Hui Shi - filósofo da Escola dos Nomes ou Lógica - China.

384 a 322 a.C. Demóstenes - orador grego nasceu em Atenas (Grécia).

384 a 322 a.C. Aristóteles - discípulo de Platão - Estagira (Macedônia).

369 a 286 a.C. Zhuangzi (ou Chuang Tzu) - filósofo taoísta - China.

341 a 270 a.C. Epicuro - fundador do Epicurismo - Ilha de Samos (atual Grécia).

340 a  264 a.C. Zenão - filósofo helenista, fundador do Estoicismo - Cítio (Chipre).

325 a 250 a.C Gongsun Long - filósofo da Escola dos Nomes ou Lógica - China.

287 a 212 a.C. Arquimedes - nasceu em Siracusa, hoje uma comuna italiana na região da Sicília.

280 a 233 a.C Han Fei - filósofo da Escola do Legalísmo, nasceu na China.

106 a 43 a.C. Marco Túlio Cícero - orador e filósofo latino, nasceu em Arpino (Itália).

99 a 55 a.C. Lucrécio - poeta e filósofo latino.

65 a 8 a.C. Horácio - poeta lírico e satírico, além de filósofo – nasceu em Venúsia (Venosa, região da Basilicata, província de Potenza, sul da Itália).

4 a.C.  a  65 d.C. Sêneca - filósofo estóico e dramaturgo latino, morto pelo imperador Nero. Provavelmente nasceu em Córdoba (Espanha).

Ano 1 Jesus (Yeshua em hebraico e aramaico, Isa em árabe) - nasceu em Belém (hoje uma cidade palestina no centro da Cisjordânia).

354 a 430 d.C. Agostinho - bispo cristão e teólogo, nasceu na Argélia (norte da África). Viveu na Europa e morreu na Argélia.

570 d.C. Maomé (Muhammad, em árabe) - fundador do Islamismo, nasceu em Meca, na Arábia Saudita.

980 a 1037 d.C. Avicena - filósofo e médico muçulmano, nasceu na Pérsia (atual Irã).

1225 a 1274 d.C. Tomás de Aquino - teólogo cristão, nasceu em Roccasecca, Itália.

1126 a 1198 d.C. Averróis - filólofo e médico muçulmano, nasceu em Córdoba (Al-Andaluz, hoje Andaluzia, sul da Espanha) e morreu em Marrakech (Marrocos).


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Qual o livro mais antigo do mundo?

Segundo estimativas em várias fontes consultadas por mim, a ordem cronológica seria a seguinte:

Séc. XX a.C - Epopeia de Gilgamesh (Mesopotâmia, atual Iraque). Poema épico escrito em tábuas de argila, em língua acádia. Conta a trajetória de um rei sumério que governa após o Grande Dilúvio. Sendo ele um semi-deus, busca a vida eterna que lhe fora negada.

Séc. XVI a.C. O Livro dos Mortos (Egito). Uma coletânea de orações e hinos. Foi escrito em rolos de papiro. Em egípcio antigo chamava-se “Livro de Sair Para a Luz”.

Séc. XV a.C - Vedas (Índia). Coletânea de hinos, cantos e mantras. Foi escrito em sânscrito, portanto, é o livro mais antigo em língua indo-europeia.

Séc. XII a.C. - Enuma Elish, A Epopeia da Criação (Babilônia). Poema épico que conta sobre a criação do mundo e explica a origem do poder real.

Séc. XII a.C. - I Ching (China) - O livro das adivinhações ou o livro das mutações.

O Livro de Jó (o mais antigo livro do judaísmo). Não há precisão sobre a época que foi escrito. Pode ser da época de Moisés ou da época de Salomão, portanto, seria menos antigo do que os Vedas e mais antigo do que o Bhagavad Gita.

Sem época exata, escritos provavelmente depois de XII a.C e antes de V a.C:
O Mahabharata (Índia) – coletânea de livros hindus.
Os Upanixades (Índia)  comentários filosóficos sobre os Vedas.

Séc. VIII a.C - a Ilíada e a Odisseia, poemas épicos de Homero. Ainda no mesmo século, a Teogonia de Hesíodo. Os três livros foram escritos na Grécia antiga. Os assuntos são, respectivamente: A guerra de Tróia (Ilion, em grego), a viagem de Ulisses (Odisseu, em grego) e a origem dos deuses (Teo, em grego).

Séc. IV a.C. - Bhagavad Gita (Índia). “O Canto do Senhor” diálogos filosóficos durante uma batalha espiritual, na qual o homem recebe a iluminação. Este livro foi incluído posteriormente no Mahabharata, mas pode ser ainda mais antigo do que pensam os historiadores.



Revisão (2023)

Todos esses textos citados acima são de caráter religioso. 

A Epopeia de Gilgamesh foi registrada em tábuas de argila, o Livro dos Mortos foi encontrado em rolos de papiro... Esses materiais podem ser considerados livros. 

Mas se em vez de "livro mais antigo" eu quisesse saber qual é o "texto mais antigo"...

Nesse caso, os Textos da Pirâmide de Unas (Egito, séc. XXIV a.C), gravados nas paredes internas, na sala do sarcófago, são os escritos religiosos mais antigos já encontrados. Ao menos trezentos anos mais antigos que a Epopeia de Gilgamesh.

E mais tarde, esses textos serviram de fonte para compor o Livro dos Mortos.

Curiosidade: nessas paredes na pirâmide de Unas, em Sakkara, há desenhos secretos feitos em relevo que aparecem somente com uma luz diagonal, rente à parede. 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Poema de Augusto dos Anjos


Sonho de um monista

Eu e o esqueleto esquálido de Ésquilo
Viajávamos, com uma ânsia sibarita,
Por toda a pró-dinâmica infinita,
Na inconsciência de um zoófito tranquilo.

A verdade espantosa de Protilo
Me aterrava, mas dentro da alma aflita
Via Deus – essa mônada esquisita –
Coordenando e animando tudo aquilo!

E eu bendizia, com o esqueleto ao lado,
Na guturalidade do meu brado,
Alheio ao velho cálculo dos dias,

Como um pagão no altar de Proserpina,
A energia intracósmica divina
Que é o pai e é a mãe das outras energias! 

Fonte:
ANJOS, Augusto dos. Poesias de Augusto dos Anjos – Eu e Outras Poesias. São Paulo: Editora Letras & Letras, 2003.


Este é o poema mais hermético de Augusto dos Anjos. A análise completa do poema está em minha dissertação neste endereço:

O link acima leva à postagem de 22 de abril de 2011, cujo título é Textos publicados: dois poemas e dissertação. Lá haverá três links, o terceiro leva direto à minha dissertação.

A seguir, postarei algumas “pistas” para compreender este poema.

O monismo é a doutrina que prega uma realidade única, ou seja, a unidade em detrimento da dualidade, a união entre mente e corpo, espírito e matéria.

A referência a Ésquilo, dramaturgo grego frequentemente reconhecido como o pai da tragédia, aparentemente surge apenas em razão da sonoridade obtida no verso: “esqueleto esquálido de Ésquilo”. Com efeito, produz-se o eco dos sons: [esk], [esk], [esk]. O som realça a presença sombria do esqueleto – simbolizando a morte – que está próxima do eu lírico.  Mas “Ésquilo” também é metonímia para “tragédia”. Portanto, o eu lírico viajava na companhia da morte trágica.

A trecho “com uma ânsia sibarita” (2º verso) significa: ostentando valores materiais. Luxos e caprichos que o eu lírico deixará após uma descoberta, uma epifania que acontecerá mais adiante no poema.

O eu lírico e o esqueleto do dramaturgo grego viajavam na “inconsciência de um zoófito tranquilo”. Zoófito é uma designação antiga para corais, esponjas e medusas. Portanto, seria uma metáfora para microcosmos ou um mundo onírico, talvez surreal, visto que o texto menciona “inconsciência” (4º verso).

Na segunda estrofe, “A verdade espantosa do Protilo” aterrorizava o eu lírico. Protilo é um termo usado em alquimia, seria a hipotética matéria primitiva de que se formam os elementos dos corpos.

A conjunção coordenada adversativa “mas” (6º verso) sugere uma oposição entre “a verdade do Protilo” e “Deus”. Se a “verdade do Protilo” causa terror ao eu lírico, logo, Deus causa o oposto. A “alma” do eu lírico está “aflita” com a “verdade de Protilo” (ou teoria do Protilo). Mas o eu lírico “via Deus” dentro de sua “alma aflita” e essa visão o acalmava.

No sétimo verso, Deus é descrito como “essa mônada esquisita”. Mônada, segundo a teoria de Pitágoras, seria a união perfeita do espírito e da matéria constitutiva de Deus. Então, Deus, descrito como mônada, significaria a unidade de tudo: os microorganismos, o princípio criador, a união perfeita entre espírito e matéria, a simplicidade. O significado de “esquisita” nesse verso é “delicada, bem acabada, rara”, portanto, uma “mônada rara e bem feita”.

O eu lírico “via Deus coordenando e animando tudo aquilo”, ou seja, coordenando todo o universo e dando vida a tudo. O verbo animar significa dar ânimo, dar alma, dar vida, ou o sopro divino.

A própria etimologia da palavra relaciona-se ao sopro e ao ar, enquanto princípio vital. Animus – princípio pensante e sede dos desejos e paixões, correspondente ao grego anemos, ao sânscrito aniti, ambos significando sopro; de valor intelectual e afetivo; de registro masculino. Anima: princípio da aspiração e expiração do ar; de registro feminino. [...] Reteremos ainda uma outra definição dada por Jung: a anima é o arquétipo do feminino que desempenha um papel muito especial no inconsciente do homem. Se a anima é o índice feminino do inconsciente do homem, o animus, segundo Jung, é o índice masculino no inconsciente da mulher.

Fonte:
BRUNEL, Pierre. et al. Dicionário de mitos literários. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.


Logo, no poema Deus pode ser também interpretado como o sopro divino que é a união perfeita entre princípios masculino e feminino, ou yin e yang (segundo a tradição oriental).

No décimo primeiro verso, o eu lírico se encontra “Alheio ao velho cálculo dos dias” Significa que ele abandonara a racionalidade, abandonara o “velho cálculo”.

No décimo segundo verso, há uma referência a Proserpina, a deusa romana cuja lenda fornece uma explicação mitológica para o ciclo das estações do ano. Enquanto Proserpina está no submundo de Plutão, é inverno na superfície terrestre, as plantas morrem, o alimento é escasso. Quando Proserpina deixa o submundo de Plutão e sobe à superfície, a primavera tem início e a terra se torna fértil para o plantio. Pelo caráter sazonal de seu mito, Proserpina está ligada a terra, à agricultura, à fecundidade, ao ciclo de nascimento-morte-renascimento, e por extensão, como vários outros mitos de fertilidade, carrega também um simbolismo de fecundidade sexual, ou seja, a união entre masculino e feminino gerando frutos (ou filhos). O pagão cultuava a deusa da fertilidade no rito de hieros gamos, rito este de caráter sexual, simbolizando a fertilidade. Este é o “altar de Proserpina”, mas a referência a ele, no poema, tem caráter apenas metafórico.

Ainda no décimo segundo verso, o eu lírico se compara com o pagão: “Como um pagão no altar de Proserpina”. Faz-se necessário lembrar que a palavra “pagão” vem do latim paganus, que por sua vez, vem de pagus, que indicava uma circunscrição territorial rural. Portanto, pagão significa originalmente homem do campo. O pagão tinha sua própria fé, as suas próprias crenças. A religião pagã era a religião do homem do campo, ligada ao culto da natureza. O sentido de pagão no poema é este: o pagão é o homem do campo, fiel, temente aos deuses e deusas da natureza. Portanto, o verso significa: “Como um fiel no altar da deusa da fertilidade”.

O homem do campo sem fé seria aquele que, preso à razão, preocupa-se em contar os dias para o plantio e a colheita, logo, está preso aos “velhos cálculos dos dias”. Mas o homem do campo com fé é aquele que vai ao altar de Proserpina, alheio aos velhos cálculos e entrega-se unicamente à fé, faz sua oferenda no altar da deusa e pratica seu culto confiando que, ao fazer isto, terá uma boa colheita.

Logo, o poema diz que o eu lírico “alheio ao velho cálculo dos dias” (alheio à razão) volta-se unicamente para a fé “como um pagão no altar de Proserpina”.

Em troca de sua devoção à Proserpina, o pagão queria obter fertilidade em sua lavoura e uma boa colheita. Mas o eu lírico não é o pagão, ele é “como um pagão”. Ou seja, ele se compara ao pagão que troca a razão pela fé. Mas ele não é devoto do paganismo e não busca boa colheita. O objetivo dele é outro: vencer a morte. A referência a Proserpina tem motivo apenas simbólico neste poema. O mito de Proserpina enfatiza a renovação da vida e, simbolicamente, refere-se à unidade entre masculino e feminino e à consequente renovação da vida por meio de frutos (filhos). O eu lírico enfrenta a morte trágica e teme a verdade de Protilo (que o fim da matéria seja o fim de tudo, o nada absoluto).

A epifania que o eu lírico tem é a seguinte: “E eu bendizia (9º verso) a energia intracósmica divina que é o pai e é a mãe das outras energias (13º e 14º versos)”. Ou seja, ao ver Deus animando tudo, o eu lírico se acalma diante da morte, pois Deus é a perfeita unidade (energia intracósmica divina) que é pai e mãe (masculino e feminino) de todas as energias. Assim, o eu lírico contradiz a “verdade de Protilo”.

Muito confuso? É mesmo. Mas leia o poema de novo e releia mais uma vez. Depois dessas informações, e mais duas leituras, creio que ficará um pouco mais fácil. Obviamente, a pulsão de morte e a pulsão de vida também se fazem presentes no poema: morte e renovação da vida, eterno ciclo alquímico:


Que, aliás, é a sílaba Om dos mantras hindus e antigos textos védicos. O som dessa sílaba representa a unidade, o "um", o eterno.

Repare de novo o título do poema: Sonho de um monista (Som de Om).

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Faraó, Divindade do Egito

Uma canção da qual gosto muito por causa do ótimo ritmo e das referências à mitologia egípcia. Composição de Luciano Gomes, gravada e regravada por diversos artistas, tais como Margareth Menezes e Olodum. No vídeo abaixo, a versão da "Bamdamel". Veja o vídeo e acompanhe a letra (correta):






Deuses,
Divindade infinita do universo.
Predominante
Esquema mitológico.
A ênfase do espírito original,
Shu,
Formará
Do Éden um ovo cósmico

A emersão
Nem Osíris sabe como aconteceu (2x)

A ordem ou submissão
Do olho seu
Transformou-se
Na verdadeira humanidade.

Epopéia
Do Código de Geb.
E Nut
Gerou as estrelas.

Osíris
Proclamou Matrimônio com Ísis.
E o mau Seth
Irado o assassinou
E impera.
Hórus levando avante
A vingança do pai
Derrotando o Império do mau Seth
Ao grito da vitória
Que nos satisfaz.

Cadê?
Tutancâmon
(Ei, Gizé)!
Akhaenaton... (2x)

Eu falei Faraó! (êeeee Faraó)
Clamo Olodum, Pelourinho (êeeee Faraó)
Pirâmide a base do Egito (êeeee Faraó)
Clamo Olodum, Pelourinho (êeeee Faraó)

Que mara, mara, mara, maravilha é
(Egito, Egito, ê)!
Faraó (ó ó ó)

Pelourinho,
Uma pequena comunidade
Que, porém, Olodum unira
Em laço de confraternidade.

Despertai-vos para a
Cultura egípcia no Brasil,
Em vez de cabelos trançados
Veremos turbantes de Tutancâmon.

E nas cabeças
Se enchem de liberdade,
O Povo negro pede igualdade
E deixemos de lado as separações.

Eu falei Faraó!
Esse é o Olodum reggaeton!
Batendo na palma da mão.


sábado, 14 de maio de 2011

O beijo


O beijo, escultura de Rodin (1840 – 1917).








O beijo, tela de Pablo Picasso (1881 – 1973).


Rodin esculpindo O beijo, desenho de Milo Manara.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Cantiga galego-portuguesa

No sábado 23 de abril de 2011, eu postei neste blog uma cantiga medieval. Hoje posto outra cantiga.

Mais detalhes no vídeo:







Para localizar a outra cantiga anteriormente postada, basta clicar em uma das palavras-chave em "marcadores".


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Memento mori

 
No poema da postagem anterior, Baudelaire expressa a ideia de “momento” e de “transitoriedade do momento”.

A transitoriedade sempre foi, desde a lírica antiga à poesia moderna, um dos temas mais requisitados pelos escritores. Essa tradição, no caso do ocidente, talvez tenha tido início a partir de Heráclito, com a frase “o homem não pode entrar duas vezes no mesmo rio”. O filósofo grego queria dizer que, na segunda vez, o rio já não é o mesmo, porque as águas já tinham passado, e nem o homem é o mesmo, porque o tempo não cessa também para ele.

No vídeo a seguir, tentei construir uma narrativa sobre a trindade efêmera: juventude, beleza e vida.

A música da trilha é Lamento della Ninfa, composta por Claudio Monteverdi, no período de transição entre o Renascimento e o Barroco italiano. O compositor também é classificado por alguns como maneirista.

Alguns dos quadros famosos, utilizados no vídeo, foram:
- A Ninfa da Água (Hebert James Draper)
- The Kelpie (Herbert James Draper)
- Hilas e as Ninfas (John William Waterhouse)
- Safo de Lesbos (Charles Megin)
- Ophelia (John William Waterhouse)
- Ophelia (John Everett Millais)

Os nomes dos pintores estão entre parênteses. Todos eles fizeram parte do movimento Pré-Rafaelita inglês, com exceção de Megin que era do Academicismo francês.


A narrativa do vídeo:
A narrativa passa pelas pulsões psicanalíticas, da pulsão de vida (Eros) à pulsão de morte (Tânatos). Primeiro, o vídeo enfatiza a juventude, a beleza e a vida. A partir do quadro que representa o mito de Hilas (o jovem indo de encontro às ninfas), a narrativa muda de tom. A perda de cores e o efeito de envelhecimento representam a efemeridade, a transitoriedade, o passar do tempo, o envelhecimento e a morte. Empreguei a fama lendária da poetisa Safo de Lesbos para representar a pulsão sexual (Eros), enquanto que a morte de Ophelia (personagem da peça Hamlet, de Shakespeare) simboliza aqui a pulsão de morte (Tânatos). No fim, o próprio filme sofre o efeito do tempo e se desintegra. A frase latina memento mori significa algo como “lembre-se que você é mortal”. Este era um dos pensamentos que sintetizavam o movimento barroco. Outra frase muito característica daquela época era carpe diem (i.e. colha o dia, aproveite o momento). Muito resumidamente, essa é a ideia central que tentei comunicar neste vídeo.




sábado, 7 de maio de 2011

Poema de Charles Baudelaire

Primeiro o original em francês, depois a tradução mais abaixo.


À une passante

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;

Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair... puis la nuit! — Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?

Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!


A uma passante

A rua ensurdecedora ao redor de mim urrava.
Longa, magra, em grande luto, dor majestosa,
Uma mulher passa, de uma mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e a bainha;

Ágil e nobre, com sua perna de estátua.
Eu bebia, crispado como um extravagante,
No seu olho, céu lívido onde nasce o furacão,
A doçura que fascina e o prazer que mata.

Um raio... e depois a noite! — Fugitiva beleza
Cujo olhar me fez repentinamente renascer,
Só te verei de novo na eternidade?

Além, muito longe daqui! Muito tarde! Talvez jamais!
Porque ignoro para onde foste, tu não sabes aonde vou,
Ó tu que eu amei, ó tu que o sabias.


Do livro Les fleurs du mal (As flores do mal)
Charles Baudelaire (1821-1867)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quatro feridas no narcisismo da humanidade



Do livro de Marilena Chaui, Convite à Filosofia:


Freud escreveu que, no transcorrer da modernidade, os humanos foram feridos três vezes e que as feridas atingiram o nosso narcisismo, isto é, a bela imagem que possuíamos de nós mesmos como seres conscientes racionais e com a qual, durante séculos, estivemos encantados.



Narciso encantado com seu próprio reflexo.
Tela de Caravaggio (1594 - 1596).
 
















A Metamorfose de Narciso
Salvador Dalí (1904 - 1989)
 
















Que feridas foram essas?

A primeira foi a que nos infligiu Copérnico, ao provar que a Terra não estava no centro do Universo e que os homens não eram o centro do mundo.

O heliocentrismo enfrentou resistência da Igreja no passado.


A segunda foi causada por Darwin, ao provar que os homens descendem de um primata, que são apenas um elo na evolução das espécies e não seres especiais, criados por Deus para dominar a Natureza.

Representação da evolução (segundo teoria de Darwin).


A terceira foi causada pelo próprio Freud com a psicanálise, ao mostrar que a consciência é a menor parte e a mais fraca de nossa vida psíquica.

O inconsciente aqui representando como um iceberg.




Às três feridas narcisísticas mencionadas por Freud, devemos acrescentar mais uma: a que nos foi infligida por Marx com a noção de ideologia (i.e. o imaginário social sendo determinado pelas condições de vida e trabalho).

Pirâmide que representa o sistema capitalista
 
Do Manifesto do Partido Comunista, redigido e publicado em 1848:

Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países (...). Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolve-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material quanto à produção intelectual.
 (...)
A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais (...). Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas... as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes mesmo de ossificarem-se. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado se torna profanado (...).



O que chamamos hoje de "globalização" já era previsto por Marx no séc. XIX.



Bibliografia:

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Editora Escala, 2009. Trad. Antônio Carlos Braga.

Recomendação de leitura adicional:
Propaganda: Ideologia e Manipulação (de Nélson Jahr Garcia).
Livro já publicado também com o título O que é Propaganda Ideológica?
Disponível na internet gratuitamente no endereço:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/manipulacao.html

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Nada é um paradoxo

A razão que me leva a escrever
É o fato de razão no mundo não haver.

E se alguma ordem há,
Nenhuma língua lha pode explicar.

É precisamente esta lacuna muda
Que rompe o silêncio d’alma bruta

E inculta, a alma não fala,
Mas diz algo, não se cala.

E lhe força a entender a obviedade
De que os extremos são partes da verdade,

Todavia, não está completamente nua,
Porque o universo é uma ferradura –

E as pontas se tocando
Lembram amantes se beijando.

Portanto, O Todo despido
É um Nada vestido;

Assim como toda dor é poesia
E todo verossímil é fantasia;

E a morte é a primeira despedida
E cada vício uma afirmação de vida;

Como cada um é seu próprio universo,
E ao mesmo tempo o seu inverso.

E a tristeza é notar estupefato
Que estou certo e ao mesmo tempo errado.

O nada é alguma coisa
E palavras não ditas dizem algo.

Quando digo coisa alguma,
Estou dizendo alguma coisa.