terça-feira, 27 de setembro de 2011

Rock in Rio versus Rock in Heaven

O que aconteceu com o rock and roll? Onde jaz a alma punk? Atitude e rebeldia são verbetes desconhecidos no mundo pop de hoje. Farei aqui um breve comentário sobre a primeira semana do Rock in Rio, mas apenas sobre aquelas bandas das quais vale a pena falar. Portanto, aquelas que eu não citar aqui é porque não valia a pena mesmo!

Na minha opinião, Elton John fez o melhor show do Rock in Rio até agora. O que me revoltou muito foi o fato de ele não fechar a noite, e pior, ter recebido pouca atenção da mídia. Algum blogueiro do Yahoo definiu o show de Sir Elton como "morno". É brincadeira, né? A banda era estupenda e mesmo que o cantor/compositor inglês estivesse sozinho, ainda assim seria o melhor show daquela noite. Seus improvisos ao piano foram de tirar o fôlego!

A banda Metallica fez uma bela apresentação. É normal que, tocando ao vivo, o guitarrista masque algumas notas, isso não é imperdoável. Mas baterista perdendo o ritmo... Esse sim foi The Unforgiven (que aliás, eles não tocaram, que pena!).

Red Hot Chili Peppers foi bom, principalmente pelo baixista que (no melhor estilo) rouba a cena . O Motörhead é clássico, e para quem gosta, realmente é um show que vale a pena.

Fiquei impressionado com Sepultura e Slipknot. Mesmo não gostando desse estilo de heavy metal (com voz de cachorro rouco) gostei dos shows. O som do Coheed and Cambria, que eu não conhecia, me agradou muito.

O grupo Angra sofreu com vários problemas técnicos, o que talvez explique as desafinadas do vocalista. Convenhamos, esse Rock in Rio ficou marcado pelo excesso de falhas técnicas. Espero que na segunda semana de shows não haja mais problemas.

As apresentações de Titãs, Paralamas, Milton Nascimento, Ed Motta, Sandra de Sá e Capital Inicial não foram muito boas, salvo em alguns momentos (que infelizmente não eram constantes).

Ainda acho injusto que num festival que traz a palavra "rock" haja tanta diversidade de estilos. É tão raro termos um evento essencialmente roqueiro no Brasil, e quando finalmente aparece um, dá nisso. O que pensariam os chicleteiros se as micaretas contassem com bandas de rock nos trios?

Hoje se fala muito em “ser eclético”. Eu sou a favor, mas no carnaval (e micaretas infernais) ninguém é eclético! Todos aqueles trios parecem a mesma coisa, só muda a cor do abadá. Contudo, ser eclético demais também não é bom. Imagine a Tati Quebra Barraco dando uma canja no Rock in Rio... Melhor nem imaginar!

Muitas bandas e artistas de ótima qualidade não estão neste evento. Cito alguns: AC/DC, Rush, Iron Maiden, Scorpions, Deep Purple, Rage Against the Machine, Blind Guardian, Green Day, U2, Aerosmith, Alice in Chains (com novo vocalista), Radiohead, The Offspring, Rolling Stones, A-ha, Santana, Chingon, Tinariwen, Die Toten Hosen, Rammstein, Paul McCartney, Eric Clapton, Mark Knopfler, Lulu Santos, Gilberto Gil, Flávio Venturini.

Aguardo ansiosamente pelos shows de Stevie WonderGuns n' Roses. E também por Coldplay, Evanescence, System of a Down, Pepeu Gomes, Mutantes & Tom Zé, Frejat e Jamiroquai (não com o mesmo entusiasmo).

Mas o rock já não é o mesmo. Então prefiro ficar em casa, escutando os meus antigos CDs e a minha coleção de MP3. Os meus heróis morreram de overdose (citando Cazuza) ou de Aids, ou câncer, ou de desastre aéreo, um cometeu suicídio e o maior deles foi covardemente assassinado. Apenas heróis mortos não decepcionam.

Rock in Heaven:
Jimi Hendrix,
Janis Joplin,
Jim Morrison,
Elvis Presley,
Raul Seixas,
Michael Jackson,
Freddie Mercury,
Cazuza,
Renato Russo,
Bob Marley,
George Harrison,
Ritchie Vallens,
Mamonas Assassinas,
Stevie Ray Vaughan,
Kurt Cobain,
John Lennon.

Rock in Heaven

Os Beatles versus o racismo nos EUA

Os Beatles mostraram seu apoio ao movimento pelos direitos civis nos EUA ao recusarem-se a tocar em frente de plateias segregadas, como mostra um contrato.

O contrato (leiloado recentemente) firmava um show em 1965 no Cow Palace na Califórnia (EUA).

Assinado pelo empresário Brian Epstein, o documento especifica que os Beatles “não eram obrigados a se apresentarem diante de uma plateia que segregasse negros”.

Os Beatles já tinham se manifestado publicamente quanto aos Direitos Civis em 1964, quando eles se recusaram a se apresentar em um show só para brancos no Gator Bowl em Jacksonville, Flórida.

As autoridades da cidade voltaram atrás, permitindo que o estádio fosse ocupado por membros de qualquer raça, e a banda subiu ao palco.

“Nós nunca tocamos para públicos racistas e não vamos começar agora” – disse John Lennon – “Preferiríamos perder o cachê”.

A luta pela igualdade racial nos EUA depois inspiraria Paul McCartney a escrever a canção intitulada Blackbird.

Para ler a matéria completa, acesse:


1ª Observação minha:

Para quem não sabe, na época os EUA mantinham leis racistas que restringiam o acesso de negros a certos locais públicos.

2ª Observação:

Anos mais tarde, John Lennon foi investigado pelo governo norte-americano (FBI e CIA) por causa de suas manifestações contra a guerra do Vietnã e por sua luta pelos direitos civis. Hoje há provas de que o governo estadunidense queria expulsar John Lennon do país.

Tudo isso é mostrado no documentário Os EUA X John Lennon.

Segue no link abaixo o trailer do filme com legendas em português:


John Lennon nasceu em Liverpool, Inglaterra. Após a separação dos Beatles, ele foi morar em Nova York, EUA. O cantor e compositor pacifista foi assassinado em 1980, na entrada do edifício onde morava.



Lennon participava de passeatas e organizava movimentos artísticos pela paz. Muitas de suas músicas possuíam cunho social explícito:
- All You Need is Love
- Revolution
- Give Peace a Chance
- Imagine
- Power to the People
- Working Class Hero
- Happy Xmas (War is Over)
- Woman Is The Nigger Of The World

Esta última usa de ironia para defender a igualdade entre os sexos, sendo assim uma música feminista e ao mesmo tempo anti-racista (nigger é uma palavra ofensiva de cunho racista). As duas primeiras foram gravadas pelos Beatles.

sábado, 3 de setembro de 2011

Alteregos


Do latim, alter (outro) e ego (eu).

Outro eu: cada um tem o seu?

Na mitologia, o deus Jano tinha duas faces, uma apontada para o passado e outra para o futuro. Daí  veio a origem etimológica do mês de “janeiro”.


Jano


A literatura dos quadrinhos criou vários exemplos que se tornaram famosos, como o Dr. Bruce Banner (em outras versões David Banner) e o seu alterego, o incrível Hulk. Neste exemplo, o alterego é evidente, não só pela transformação psicológica, como também pela mutação física.




O livro de ficção científica O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde (no Brasil, O Médico e o Monstro) escrito pelo escocês Robert Louis Stevenson e publicado originalmente em 1886 talvez tenha servido de inspiração para os criadores de Hulk.

Outro exemplo famoso dos quadrinhos é o de Bruce Wayne (milionário) e seu alterego Batman (o homem morcego, o homem sem medo, o cavaleiro das trevas). Particularmente, esses dois me recordam muito Don Diego De La Vega e seu alterego Zorro, personagens da literatura norte-americana, criados em 1919 pelo escritor Johnston McCulley.

A literatura em geral, especialmente a modernista, trata exaustivamente do tema, levando-o ao extremo imaginável. Mas não são apenas as personagens que manifestam alteregos. O poeta Fernando Pessoa desenvolveu vários alteregos, ou melhor, heterônimos (autores fictícios com personalidades distintas; história, características literárias e traços físicos próprios). Portanto, foram muito além de apenas pseudônimos (falsos nomes). Dentre esses heterônimos, os mais conhecidos são:

Alberto Caeiro – loiro, olhos azuis, instrução primária, poeta da natureza e crítico da metafísica. Autor de 104 poemas. Utilizava-se de objetividade e linguagem simples.

Ricardo Reis – médico e poeta neoclássico, estóico e epicurista. Fazia muitas referências ao paganismo greco-romano. Por ser monarquista, exilou-se espontaneamente no Brasil depois que Portugal se tornou uma república.

Álvaro de Campos – engenheiro e poeta vanguardista, cosmopolita e muito subjetivo. Sua obra foi marcada por três fases: decadentista, futurista e niilista.

E finalmente, o próprio Fernando Pessoa (o ortônimo) – poeta do saudosismo português com uma veia voltada para o ocultismo e o misticismo.


As várias pessoas de Pessoa.

No cinema, o Clube da Luta (Fight Club, EUA, 1999) é o filme mais curioso de que posso me recordar agora. Não conto mais aqui para não estragar a trama.

Na música, o caso mais curioso está relacionado ao grupo The Doors, e mais especificamente ao seu vocalista, Jim Morrison. O tecladista Ray Manzarek afirmou que o cantor teria desenvolvido duas personalidades:

Jim – poeta criativo, amigo, divertido, contagiante, inteligente.
Jimbo – alcoólatra, sarcástico, autoconfiante, agitador das multidões.


O sorriso irônico: Jim ou Jimbo?

Na adolescência, Morrison recebeu uma correspondência escolar que o descrevia como sendo um jovem tímido e centrado em si mesmo.

Ele fez testes de QI na escola e obteve a pontuação de 149 (onze pontos abaixo de Albert Einstein). Na classificação proposta por Lewis Terman, o QI acima de 140 denota genialidade. Na classificação, originalmente proposta por Davis Wechsler, o QI acima de 127 denota superdotação.

Esse garoto, leitor de Nietzsche e Rimbaud, quando começou a se apresentar era tão inseguro que não conseguia encarar a platéia de frente, preferindo cantar com os olhos fixos na banda e de costas para o público. Ele nunca teve treinamento vocal.

Mas Jim passou por uma metamorfose. Incorporando um índio num ritual xamanístico, ou drogando-se cada vez mais, fato é que Jim foi aos poucos se tornando Jimbo.

O cantor referiu a si mesmo na música L.A. Woman como Mr. Mojo (na língua inglesa, mojo é uma gíria para libido ou charme). Morrison repetia insistentemente os versos: “Mr. Mojo risin” que numa tradução livre seria algo como “ O Sr. Garanhão está ressurgindo”. Repare que esse verso é um anagrama perfeito do nome “Jim Morrison”.

Ray Manzarek, que era adepto da meditação, disse ter visto a energia psíquica de Jim deixar o seu corpo. Isso aconteceu na última apresentação da banda ao vivo.

Jim Morrison, autor de livros de poesia e vocalista dos Doors, morreu em Paris, com 27 anos de idade. (Pouco antes dele foram Jimi e Janis, também aos 27).

E os nossos vários perfis e avates que criamos e dos quais dispomos na internet. Não seriam eles também alteregos da nossa persona?

Cada pessoa tem várias faces, cada uma adaptada a um contexto social específico.



“O mundo todo é um palco e nós meros atores”.
(parafraseando Shakespeare)