terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os perigos da obediência

A experiência de Milgram

O psicólogo Stanley Milgram da Universidade de Yale realizou uma experiência na década de 60 para avaliar o poder da autoridade sobre o bom-senso individual. Inicialmente ele pretendia entender como pessoas comuns, sob o poder de uma autoridade, foram capazes de cometer crimes bárbaros na época do nazismo.

Em resumo, o experimento consistia em um voluntário aplicar choques elétricos em outro voluntário cada vez que este errava uma resposta. E a cada resposta errada, a voltagem da máquina de choques aumentaria. Tudo isso era feito sob os olhos de um cientista (a figura da autoridade, mas que na verdade era um ator). Os choques eram falsos e o segundo voluntário (aquele que sentiria os choques) também era um ator. Sendo assim, apenas o primeiro voluntário (o que aplicaria os choques) desconhecia a verdadeira natureza da experiência. Tudo foi combinado para que o voluntário acreditasse que estava participando de uma experiência sobre aprendizagem e ele não desconfiava que os outros dois (o segundo voluntário e o cientista) eram atores. O voluntário não via o outro que (supostamente) sentia os choques, mas apenas ouvia os seus gritos de dor (os gritos eram na realidade uma gravação). O verdadeiro cientista (Stanley Milgram) observava tudo de uma cabine externa, sem ser visto.


Clique na imagem para ampliá-la.

O resultado foi que a esmagadora maioria dos voluntários aplicou os (falsos) choques até o final da experiência, mesmo depois de o segundo voluntário (o ator) dizer que estava passando mal e implorar para abandonar o experimento. Obs: O ator sempre dizia que era cardíaco e que estava passando mal (isso fazia parte do roteiro).

Os voluntários, sem saberem que os choques que aplicavam eram falsos, se sentiam constrangidos e até nervosos, acreditando que estavam realmente machucando o outro, mas aceitavam continuar o experimento, seguindo a orientação (autoridade) do cientista (o outro ator). Este sempre mandava o voluntário continuar com o experimento, dizendo ser importante levar aquilo até o final.

Poucos voluntários se recusaram a prosseguir, mesmo cientes de que poderiam abandonar o experimento a qualquer momento. Obs: Todo voluntário leu e assinou um contrato que lhe dava o direito de abandonar o experimento a qualquer momento, caso sentisse vontade.

Esta experiência foi realizada de novo recentemente (sob a supervisão de um psicólogo) e mostrada no Discovery Channel. Da década de 60 para cá, o resultado só piorou. Isto é, aumentou a porcentagem de pessoas que aceitavam aplicar os choques até o final do experimento. Mesmo sentindo-se incomodados por (supostamente) estarem aplicando choques em alguém, poucos voluntários se recusaram a prosseguir, apesar de estarem cientes de que poderiam abandonar o experimento a qualquer momento.

No final, o jogo era revelado pelo cientista real (o psicólogo) e o voluntário tomava conhecimento de que não estava aplicando choques de verdade. Quando perguntado sobre a razão de aceitar aquilo, o voluntário geralmente justificava-se dizendo algo como: “apenas segui as ordens que me foram dadas, não queria decepcionar o cientista”.

O psicólogo concluiu que o ser humano em geral é capaz de fazer coisas que vão contra a sua própria moral e bom-senso, e que age assim para se sentir aceito em um grupo (seja uma turma de amigos, uma empresa, um partido político etc) e a figura de uma autoridade, um chefe ou líder influencia as ações das pessoas, mesmo que essas ações sejam contrárias à moral do indivíduo ou de um grupo.


Réplica do experimento de Milgram:


Vídeo disponível em:

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Parábola zen

A estrada enlameada

 

Tanzan e Ekido caminhavam juntos numa estrada enlameada. Caía ainda uma chuva forte. Junto a um cruzamento da estrada, encontraram uma bela moça que não conseguia atravessar porque não queria sujar o belo kimono de seda que trazia.

- Anda moça – disse Tanzan imediatamente. E carregando-a nos seus braços, atravessou-a para o outro lado da zona mais enlameada.

A partir daí, Ekido ficou calado todo o caminho que percorreram até à noite.

Ao chegarem ao templo onde ficariam a pernoitar, Ekido não conseguiu se conter e disse a Tanzan:

- Nós, os monges, não nos aproximamos de mulheres. Especialmente se tão jovens e bonitas. É perigoso. Porque fizeste aquilo?

- Eu deixei a moça lá atrás – disse Tanzan – Tu ainda estás a carregá-la?



fonte: Wikipedia

domingo, 15 de janeiro de 2012

Parábola jainista

Os cegos e o elefante

Alguns cegos decidiram aprender o que era um elefante tocando partes diferentes do animal.

Um tocou o lado do corpo do elefante e o descreveu como uma parede. Outro tocou a tromba e ficou convencido de que o animal era como uma serpente. O que tocou o joelho disse tratar-se de uma árvore. O que tocou as presas disse que um elefante era como duas espadas.


Mais tarde, ao se reunirem, os cegos se envolveram em uma discussão acalorada. Cada um tinha sua própria versão do bicho, mas nenhuma delas parecia se encaixar com a do outro. Embora estivessem individualmente certos, a intolerância em compreender a verdade do próximo impedia a todos de entender o que era realmente o elefante.


O jainismo prega a multiplicidade de pontos de vista. Segundo esta doutrina, nenhum ponto de vista pode abranger sozinho toda a verdade. Este é um dos pilares que sustenta a filosofia jainista da não-violência. Ou seja, conflitos são evitados ao respeitar o ponto de vista alheio.