quinta-feira, 19 de abril de 2012

Aberrações da mídia opinando sobre Educação e Língua Portuguesa

Assista ao vídeo com muita atenção:





 Após assistir ao vídeo, observe estes detalhes.

1 - O livro didático aprovado pelo MEC (do qual eles falam na matéria jornalística) ensina a gramática tradicional, normativa, com todas as regras e exceções que estudamos no segundo grau. Apenas em um pequeno trecho de um capítulo, o livro menciona a variação linguística. Mas os jornalistas falam do livro como se ele ensinasse a "língua errada" em todos os capítulos.


2 - Os argumentos do jornalista Alexandre Garcia manipulam a realidade dos fatos.

Fato: as aprovações "automáticas" em escolas públicas não acontecem para "evitar o constrangimento do aluno". A verdade é que o número de vagas é limitado. Todos os anos é preciso criar vagas para novos alunos. Como as escolas não têm vagas, elas aprovam todos os que lá estudam, logo, alguns deles subirão de série e outros se formarão e sairão da escola. Assim são criadas as vagas para os novos estudantes que chegarão. Este é o real problema, mas Alexandre Garcia não enxerga isso, e pior, ele culpa a qualidade de ensino.

Os exemplos citados por Alexandre Garcia (Coreia do Sul e China) realmente ilustram uma alta qualidade de educação. Porém, falar em variação linguística na escola não diminui em nada a qualidade da educação, pelo contrário. O jornalista é tão leigo no assunto, que desconhece o fato de que a variação linguística já é estudada em todo o mundo há décadas. Isso começou nos EUA, na década de 1960. Não duvide que a variação linguística também é estudada na Coreia, China, Japão, Reino Unido, Noruega etc.

O jornalista desconhece o significado do termo "preconceito linguístico", mas fala como se conhecesse. Alexandre ignora que a linguagem usada por ele não é o "padrão" que ele mesmo defende. Ele condena tanto o "erro" e não nota os próprios "erros" que costuma cometer em vários de seus comentários.


3 - O "especialista" convidado para a entrevista, o professor Sérgio Nogueira, não é especialista em Linguística. Pelo contrário, ele é um professor tradicionalista e muito conhecido entre os acadêmicos por combater a Linguística Moderna. Como professor, ele deveria se atualizar das pesquisas recentes e valorizar a opinião de acadêmicos (pesquisadores e cientistas da língua) ao invés de ignorá-los e até criticá-los.

Nogueira começa dizendo que Alexandre Garcia “foi brilhante em sua fala” e depois até manda um “abraço para ele”.

Contudo, mesmo sendo tradicionalista, às vezes, Nogueira tem algumas opiniões positivas sobre a variação linguística (ou seja, ele não é tão radical). Mas repare que quando ele começa a defender a variação linguística dizendo "as variações linguísticas são valorizadas, até aí tudo bem" e "ensinar os alunos a não serem preconceituosos é função de todo professor" a jornalista o interrompe. Ou seja, a fala do "especialista convidado" já não atende aos interesses, já não serve para o jornal.


4- A jornalista ao interromper o professor diz "gostaríamos de mostrar às pessoas que estão em casa o que está nesse livro aprovado pelo MEC". Isto é uma tentativa de persuadir (emocionalmente) a opinião do telespectador, fazendo-o concordar com a opinião do jornal, ou seja, a opinião de que o livro ensina “português errado e isto é um absurdo”.

Quem conhece o livro nota imediatamente que o exemplo mostrado no jornal está totalmente fora de contexto. Eles suprimiram várias partes importantes, fazendo o telespectador crer que o livro é aquilo mesmo. Note que o livro real NÃO é mostrado, o que é mostrado é uma imagem manipulada, feita em computador.

O professor cita de forma elogiosa o Soletrando (quadro do programa de Luciano Huck, na Rede Globo). No final o professor também elogia a linguagem da Rede Globo classificando-a como "linguagem padrão". Fazendo isso, ele supervaloriza a linguagem do Sudeste (especialmente RJ e SP) e desqualifica todas as outras linguagens do Brasil.

Ora, um professor que elogia tanto assim a Rede Globo, obviamente seria o convidado perfeito. Ele não foi convidado para estar ali por acaso. Sérgio Nogueira é consultor da emissora carioca. Ou seja, ele é pago pela Rede Globo, logo, seu ponto de vista não é nada imparcial.

Um doutor em Linguística (que recebe seu salário de uma Universidade Federal) nunca estaria naquela cadeira como convidado. Este sim, poderia emitir uma opinião bem embasada e imparcial, sem comprometimento com a emissora.

Especialistas de verdade são os acadêmicos (pesquisadores e cientistas) e não consultores de jornais.


Abaixo, envio links para textos de Marcos Bagno (Doutor em Filologia e Língua Portuguesa, Linguísta, tradutor, escritor e professor da Universidade de Brasília).

Besteirol midiático:
http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=926


Carta para a revista Veja:
http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=39


Nada na língua é por acaso:

http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=37



quarta-feira, 18 de abril de 2012

A função do mito

O mundo atual, quando visto a partir de uma perspectiva etnocêntrica, é encarado como sendo lógico, racional, consciente e científico. Tal ponto de vista atribui apenas às “sociedades primitivas” a criação dos mitos. O erro aí é crer que os mitos não permeiam nosso mundo atual e, além disso, julgar que a nossa consciência individual é impermeável ao inconsciente coletivo.

Os mitos não constituem uma verdade científica, porém, não podem ser encarados como uma mentira. Alguns mitos aludem à natureza humana, proporcionando uma visão legítima da nossa condição de vida e um ponto de vista crítico sobre a nossa essência humana e animal.

Portanto, o conhecimento e interpretação dos mitos nos levam a muitas descobertas sobre nós mesmos enquanto seres racionais e emocionais. Exemplo disso é a linguagem simbólica dos sonhos. Esta é construída numa lógica muito semelhante à do mito, mostrando que o inconsciente individual e o inconsciente coletivo estão, de alguma forma, relacionados.

Outros mitos tentam justificar ou explicar a nossa organização social, a moral vigente, os tabus e certos padrões de comportamento. Não há como não fazer um paralelo entre mito e ideologia, ou mito e história. Ora, frequentemente, a História Oficial não passa de uma exaltação do vencedor sobre o vencido, ou ainda, de um conto para enaltecer a origem de um povo. Neste caso, a História deixa de ser ciência e passa a ser um aparelho ideológico do Estado. E não só a História, mas muitas outras ciências se corrompem em métodos pseudocientíficos, visando um ideal político ou religioso. E isso não é observado apenas nas ciências. Refiro-me agora à imprensa: o jornalismo, infelizmente, é a maior fábrica de “mitos”, sendo sempre parcial, visando interesses econômicos próprios. Neste caso, uso “mito” (entre aspas) para indicar que estou me referindo a outra concepção de mito. O mito não é uma mentira, ele é literário (de tradição oral), simbólico, utiliza-se do maravilhoso para expressar algo além do entendimento puramente racional. Já o “mito” é sinônimo de mentira, manipulação, ocultação da verdade. Ironicamente, os “mitos” criados pela imprensa, pela pseudociência e, algumas vezes pela História, recebem mais crédito do que os mitos literários.

Muitos mitos são alegorias sobre nossa condição humana e nossa relação com o mundo. Assim como as parábolas, os mitos têm o poder de nos fazer enxergar mais além, logo, eles podem ser mais poderosos do que proposições filosóficas e fatos científicos.

Entretanto, na nossa sociedade, cada tipo de conhecimento tem seu valor e lugar específico: o mito, a filosofia, a ciência. Até mesmo o jornalismo e a publicidade têm sua importância, aliás, enorme, já que a mídia é a maior formadora de opinião do nosso tempo (ou será a religião?). Tirando o fanatismo míope de algumas crenças, a religião é uma forma importantíssima de conhecimento. A religião, quando bem aplicada, só edifica.

Contudo, ainda considero a arte como a expressão mais sábia e sincera de conhecimento técnico, racional e emocional. Dentre todas as formas de conhecimento, apenas duas considero como necessidades inatas e indispensáveis ao homem: a arte e a filosofia. E incluo também a fé, mas não como um tipo de conhecimento, e sim como uma virtude.

Em resumo, o mito é um olhar para além da realidade. E o que é a realidade? Esta, talvez, nunca poderemos conhecer em si, porque o limite da ciência é a condição humana. O limite da condição humana é sua subjetividade intransponível. Mas o limite para a imaginação é o infinito.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Etnocentrismo versus Relativismo cultural


Etnocentrismo

Relativismo cultural
Preconceitos (pré-julgamentos)

Sem juízo de valor
Imposição da subjetividade
(impõe crenças e gostos pessoais)

Busca pela objetividade
(tenta ser imparcial)
Dicotomia:
 civilização x bárbaros (primitivos)

Não há dicotomia
(há empatia pela cultura do outro)
Pseudocientífico
(pesquisa contaminada pela visão parcial)

Científico e filosófico
(pesquisa factual, verificável, demonstrável)
Moralista (senso-comum)
Ética (filosófica)

Visão dogmática
(impondo dogmas pessoais para julgar o outro)
Visão humanista
(busca entender, sem julgar os dogmas do outro)

Impõe a “língua padrão”

Aceita a variação linguística

Racismo, extremismo, fanatismo e intolerância.

Empatia

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ciência versus pseudociência


 
Ciência
Pseudociência

Observação

Observação

Hipóteses

Hipóteses

Experimentação
Teoria
▼ (dúvidas, críticas, confrontação)
Experimentação


Não há críticas;
Não há confrontação.



Lei (pode ser questionada)


Lei



Ciência

Pseudociência

Testa e confronta a teoria frequentemente;

Testa a teoria já se sabendo de antemão o resultado;

Busca fatos e exemplos que confrontem a teoria;

Recusa fatos e exemplos que confrontam a lei;

Utiliza a experiência para confrontar a teoria;

Adapta a experiência para confirmar a própria teoria;

Retira da experiência exemplos factuais (verificáveis).
Adapta os exemplos para confirmar a própria teoria/lei.


Exemplo:


















Epistemologia:
  

domingo, 15 de abril de 2012

O que é consciência e o que é realidade?


A consciência na filosofia ocidental

A Fenomenologia de Edmund Husserl (1859 – 1938):
O matemático alemão dizia que a consciência dá sentido às coisas, mas ela não revela a realidade das coisas, ela apenas funciona como um sistema de significações que dependem da estrutura da própria consciência.

Para Husserl, a intenção do observador (ou a intencionalidade) define a forma de atuação dos processos mentais, logo, tornando a percepção sempre subjetiva.

Na Grécia Antiga...
 O filósofo Platão (428 – 347 a.C.), em sua alegoria da caverna, mostra que toda humanidade vive num mundo de aparências e que esta humanidade não contempla o mundo real, mas apenas “as sombras” deste mundo.


A consciência no pensamento oriental

O pensador chinês Wang Yangming (1472 – 1529) ensinava que os objetos não existem inteiramente separados da mente porque é a mente que os dá forma. A mente dá razão ao mundo.

O taoísta Chuang Tzu (séc. IV a.C.) certa vez sonhou que era uma borboleta. Depois ele se perguntou: sou um homem que sonhou ser borboleta, ou sou uma borboleta que agora sonha ser um homem?



Resumindo...

A consciência é formada por: nossa condição biológica humana, nosso estado psíquico (nossos desejos, nossos medos), nossa angústia existencial, nosso histórico de vida (experiências e traumas), nossa criação familiar, os dogmas e tabus sociais e religiosos, a cultura, a linguagem e a ideologia (a superestrutura).

Por isso, nós não conhecemos a realidade em si, mas a realidade tal como aparece para nós, estruturada e organizada pela nossa consciência.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Fugere urbem

Ônibus lotado!
Eu espremido, acotovelado,
Excluído, frustrado!
Cansado chego do trabaio.
Mas Seu Mauri me diz:
“Carro apertado é que canta”!

Feliz
O carro de boi de manhazinha,
Cada roda apertada dum jeito,
Duas rodinha,
Dois tom diferente:
“O dueto das roda parece uma dupla caipira”!
(Diz o amigo contente)

E me alembro do meu vô,
Pra quem tiro o chapéu.
Deve estar puxando seu carro de boi,
Ouvindo o canto das roda no Céu.



* Citações do Sr. Mauri (amigo de prosa).

** Dedico este poema ao Sr. Walter (meu avô) in memoriam.

domingo, 8 de abril de 2012

Citações



Mensagem de Páscoa

Ai de vocês que transformam a casa de Deus em comércio. Vendem seus CDs, vendem seus falsos milagres, vendem suas falsas unções, vendem falsas promessas de prosperidade, enquanto na verdade só vocês têm prosperado. Como escaparão do Julgamento que há de vir?

Porque está escrito:

“Não façais da casa de meu Pai casa de venda”.
(João 2:16)

“E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas”. 
(Mateus 21:12)




No Julgamento Final, o Senhor dirá:

“Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, destinado ao Diabo e seus anjos. Pois tive fome, e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era forasteiro, e não me recolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo e preso, e não me visitastes”.

E os hipócritas perguntarão: Senhor, quando deixamos de fazer tais coisas?

E Ele responderá: “Todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, a Mim o deixastes de fazer”. 
(Mateus 25, versículos 41 a 45). 




Um homem rico sabia os 10 Mandamentos de cor. E vendo Jesus passar, perguntou-lhe o que deveria fazer para ter a vida eterna. 

E Jesus olhando para ele, disse-lhe:
“Falta-te uma coisa: vai, vende tudo o que tens, e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me”.

Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.

Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos:
“Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus”.
(Marcos 10:21-25)


“Por isso vos digo: Não andeis preocupados quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, nem pelo que haveis de vestir. A vida é mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário”.
(Mateus 6:25)

terça-feira, 3 de abril de 2012

A função do artista (citação)

John Lennon definiu perfeitamente o papel de um artista na sociedade. Ele disse:

“Meu papel na sociedade, ou de qualquer outro artista ou poeta, é experimentar e expressar o que todos nós sentimos. Não é dizer às pessoas como elas devem se sentir. Não como um pregador, não como um líder, mas como um reflexo de todos nós”.


Numa outra tradução:
“Meu papel na sociedade, ou de qualquer outro artista ou poeta, é tentar expressar o que todos nós sentimos. Não é dizer às pessoas como elas devem se sentir. Nem ser um pregador, nem um líder, mas provocar uma reflexão em todos nós”.


No original:
My role in society, or any artist's or poet's role, is to try and express what we all feel. Not to tell people how to feel. Not as a preacher, not as a leader, but as a reflection of us all.