sexta-feira, 18 de maio de 2012

Linguagem poética, comunicação e magia

Atente para este fato: a linguagem literária cria metáforas e outras figuras de pensamento que determinam novas maneiras de ver e perceber o mundo a nossa volta. Ora, não posso imaginar uma linguagem mais técnica e ao mesmo tempo mais emotiva do que essa, em especial, a poesia.

A linguagem poética parece ser, dentre as formas de expressão verbal, a que mais exige da nossa capacidade de interpretação. Talvez seja o mais alto grau de técnica aliada a sentimento. Até o pensamento mais subjetivo pode ser entendido quando expressado poeticamente. Até o sentimento mais incomunicável pode se tornar em verbo no fazer poético.

A subjetividade poética extrapola a suposta objetividade da filosofia e da ciência. Isso porque a linguagem objetiva não dá conta de exprimir toda a paixão humana, todo o desejo, todo o medo, toda a raiva, toda a tristeza e toda a alegria. A linguagem poética é o dom que torna a comunicação de sentimentos possível.

Não se pode falar em comunicação sem falar em poesia. Hoje chega a ser difícil dizer quem veio primeiro: o sentimento humano ou a poesia. Será que seríamos capazes de sentir emoções complexas sem uma linguagem poética que desse conta de traduzir isso para o pensamento? Certamente não seríamos capazes de expressar algo assim sem a “Pena” ou a “Lira”. Estas já habitavam o coração, a alma e o cérebro dos nossos antepassados mesmo antes de terem sido inventadas concretamente. Sem essas ferramentas interiores, eles não teriam inventado nada, sequer uma língua!

A palavra só ganha significado quando é referente a um pensamento e a um sentimento. Porém, o pensamento abstrato só pode ser visível para a imaginação depois de se transformar em um neologismo ou em uma alegoria. O sentimento, antes incomunicável, se transforma em metáfora e esta se torna uma visão de mundo. Este é o berço da realidade como a percebemos.

Contudo, além da linguagem, há algo de mágico que acontece em toda tentativa de comunicação. Não é possível haver entendimento entre duas pessoas, ou compreensão do texto pelo leitor, se não houver uma conexão mágica entre as duas pontas do processo de comunicação. E esta conexão vai além de qualquer linguagem, mensagem e canal. Mesmo a poesia mais bem trabalhada não pode ser entendida por alguém que não se conecte ao fio mágico que passa por trás da linguagem. Um exemplo: este texto é um monte de afirmações inúteis e não passa de baboseiras para aqueles que não são apaixonados por poesia. Eles não entenderão a minha tentativa de comunicação (e a comunicação é sempre uma tentativa).

Acho que a magia a que me refiro pode ser definida por substantivos como amor e empatia e verbos como cativar. Logo, tais sentimentos deviam existir antes de haver uma linguagem poética, mas, paradoxalmente, não existiam.