quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Intertextualidade em “Iracema” de José de Alencar


Iracema - tela de José Maria de Medeiros



Paralelo entre Iracema e a história da colonização do Continente Americano 

Iracema é uma índia virgem, cujo nome é um anagrama para "america" (América). Martim é o homem branco com quem Iracema tem sua primeira relação sexual. Esse episódio representa o desbravamento da floresta tropical, da mata atlântica, da natureza ainda "virgem" do Continente Americano. 



Paralelo entre Iracema e a Bíblia (história de Raquel e Jacó) 

Raquel, personagem do Antigo Testamento, deu à luz um menino e chamou-o pelo nome de Ben'onî – que em língua hebraica significa "filho da dor".

Iracema, personagem de Alencar, deu à luz um menino e chamou-o pelo nome de Moacir – que em língua tupi significa "filho da dor".

Por que "filho da dor"? Porque nas duas histórias, a mãe morre pouco depois de dar à luz. Raquel morre no parto, Iracema morre após entregar o seu filho a Martim.

Obs: Mais tarde, o nome Ben'onî (ou Benoni) foi mudado para Benjamin.

A intertextualidade (aproximação) entre Moacir e Benjamin pode ser interpretada como sendo uma tentativa de Alencar de atribuir aos brasileiros a qualidade de “povo escolhido”, assim como os judeus, fazendo-os ambos pertencer a uma mesma casta.



Paralelo entre Iracema e o mito de fundação de Roma

Segundo o mito da fundação de Roma, Rômulo e Remo foram amamentados por uma loba.

No livro Iracema, a índia amamenta seu filho com dificuldade. A amamentação só se torna possível depois que a índia faz com que uma loba sugue o seu seio.

Matim, pai de Moacir, é um guerreiro branco e representa a cultura europeia. O seu nome significa "guerreiro" – derivado do latim – e remete ao deus romano Marte, deus da guerra.

Em resumo, Alencar criou em Iracema uma lenda sobre a origem do Brasil, cujo povo se inicia a partir da miscigenação do índio com o branco. A intertextualidade entre Moacir (em Iracema) e o mito da fundação de Roma é uma tentativa de Alencar de atribuir uma origem lendária (heróica) ao povo brasileiro.

Sendo assim, o romance de Alencar tem características épicas, apesar de ser escrito em prosa.

2 comentários:

  1. Estava à procura de Iracema e vim bater aqui, no Interlúdio. Li a matéria e fiquei maravilhada com esse belo trabalho sobre a intertextualidade de Iracema de José de Alencar. Como "boa" cearense, li a obra de Alencar ainda menina...adorava, O Tronco do Ipê. Há muito não revisito Iracema. Muito interessante e importante esse seu belo trabalho literário. Parabéns! Tenho um blog: Da Cadeirinha de Arruar. Dê um pulinho por lá...
    Meu abraço.

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