quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Definição de literatura



O termo “literatura” (do latim: littera = letra) foi difundido no Romantismo (final do século XVIII e durante o século XIX) para definir a “arte de escrever”. Mas este é ainda um conceito recente. Para entender o que é literatura, precisamos voltar na história.

Com base em Aristóteles (século IV a.C.):

A Física (do grego: physis = natureza) estuda os seres e as ações produzidos pela natureza. Isto é, a ciência do mundo visível.

A Metafísica (do grego: meta physis = além da natureza) estuda os fenômenos existenciais, contingentes e necessários. É a filosofia sobre o Universo de Deus.

A Poesia (do grego: póiesis = fabricação) estuda as ações fabricadas pelos seres humanos. Ou seja, a arte.


O que é arte?

Arte (do latim: ars), (em grego: téchne), significa “saber fazer”. O radical da palavra grega é a origem da palavra “técnica”.

O artista produz “feitiços” e “fetiches” (do latim: facticius = fictício), ou seja, ações que fingem um estado natural, objetos que imitam a natureza.

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa, Autopsicografia)

Os gregos antigos usavam o conceito de mimesis que significa “imitação”, “representação”. Por exemplo: um desenho (ou fotografia) de um carneiro imita a aparência de um carneiro, o som de uma flauta imita o pio de um pássaro, a arquitetura de uma casa imita uma caverna, os fogos de artifício (fogos artificiais) imitam o relâmpago e o trovão, o pão produzido pelo homem imita o alimento produzido naturalmente, o ator imita as emoções humanas; a linguagem expressa a psique humana: nossas necessidades, desejos, medos, angústia, pensamentos.

A arte é a humanização do mundo natural. O ato de fabricar (poietike) não é apenas uma questão de sobrevivência, é também o que anima e motiva a manutenção da vida, dando sentido a ela.

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
(Titãs, Comida)

Sendo assim, a literatura (arte de escrever) é a forma como o homem expressa, por meio da linguagem, a sua percepção de mundo e de si mesmo. É o autodescobrimento, numa busca pelo autoconhecimento. Em outras palavras, é a procura e o reencontro do homem com a sua essência humana.

O primeiro estudo do homem que quer ser poeta é o seu próprio conhecimento, inteiro; ele procura a sua alma, a inspeciona, a tenta, a aprende (...) O poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota nele todos os venenos para só guardar as quintessências.
(Arthur Rimbaud, Carta Dita do Vidente,1871).

A demagogia dos tolos sobre o gênio



Uma nova caça às bruxas está se formando. Os “vigilantes da boa-moral”, em nome da ditadura do “politicamente correto” agora estão apontando suas tochas para Monteiro Lobato, um dos maiores escritores brasileiros, sob a alegação de sua obra ser racista.

O ponto não é se ele era racista ou não. Proibir, censurar ou adulterar uma obra literária é o mesmo que omitir a Nossa História. Monteiro Lobato faz parte do nosso passado literário, nossa herança, nosso folclore, nossa identidade como povo brasileiro.

Ora, toda a História Humana tem guerras, escravidão, machismo, racismo... Até a Bíblia tem isso. Monteiro Lobato viveu e retratou um período da História Brasileira. Julgá-lo segundo os paradigmas atuais seria no mínimo injusto (para não dizer burrice). Proibi-lo nas escolas seria tão ridículo quanto proibir a Bíblia nas igrejas sob a alegação de ela conter muita violência em suas páginas.

A arte denuncia a realidade, doa a quem doer. Não importa se a obra é bonita para uns e feia para outros, o importante é que toda obra deve ter o seu espaço respeitado e que a expressão artística seja livre. Sem liberdade de expressão e de opinião, não há debate, não há respeito, não há democracia.

Os demagogos que torçam seus narizes, mas a liberdade de expressão não é discutível nem negociável. Essa é uma coisa da qual a sociedade jamais pode abrir mão. Toda ideia é passível de ser expressa e discutida. Há apenas uma ressalva para isso. Em todo debate, os dois lados devem estar munidos de conhecimento especializado sobre o tema, quando este assim o exige (como é o caso da Literatura). Logo, não há debate entre especialistas e não-especialistas.

A obra de Monteiro Lobato é um exemplo da genialidade literária brasileira. Este é um fato aceito entre estudiosos da área de Letras, portanto, não está em discussão.

Quanto ao racismo? Combatam-no! Ensinem os valores universalmente aceitos! Os livros existem para serem lidos e questionados, mas jamais censurados.