quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Narratologia

Semelhança acidental entre narrativas:

Em a Morfologia do conto de fadas Vladimir Propp verificou que os contos de fadas possuem uma forma monotípica, desde a função das personagens até a construção do conto.  

O antropólogo estruturalista Claude Lévi-Strauss redefiniu o trabalho de Propp dizendo que o formalista russo não teria descoberto a morfologia, mas sim a estrutura do conto fantástico. 

A teoria do monomito (a jornada do herói ou ciclo do herói) do mitologista Joseph Campbell mostra que há estágios que se repetem nos mitos de heróis. Podemos inferir, como o nome sugere, que houvesse um mito primordial do qual surgiram todos os outros mitos.  

Os trabalhos de Propp e Campbell fortalecem o conceito de inconsciente coletivo do psicólogo Carl Gustav Jung. Segundo esse conceito, haveria uma reserva de memórias inconscientes compartilhadas por toda a humanidade, daí a semelhança acidental entre as narrativas mitológicas. Jung também estudou os contos infantis e neles verificou a existência de arquétipos do inconsciente coletivo. 

Na Linguística, o conceito de polifonia de Mikhail Bakhtin parte da premissa da ideologia, portanto, a influência de um texto sobre outros não seria algo realizado conscientemente pelos autores, mas sim pelo fato de estes estarem inseridos num contexto ideológico que os influencia. 

O filósofo Friedrich Nietzsche elaborou um conceito (inacabado) conhecido como eterno retorno segundo o qual a vida é limitada por um número restrito de acontecimentos e sensações. Podemos concluir que se isso ocorre no mundo não-diegético, também ocorrerá no diegético, uma vez que este se inspira naquele. 



Semelhança proposital entre narrativas:

O memorando de Vogler, redigido pelo roteirista Christopher Vogler com base nos estudos de Campbell, padronizou a redação de roteiros nos estúdios Disney, criando uma fórmula para narrativas de sucesso. Ou seja, no caso dos filmes da Disney, a semelhança entre as narrativas ficcionais não é mera coincidência.                

 Intertextualidade – Consideraremos como intertextualidade toda vez que um texto faz referência intencional a outro texto, isto é, quando o autor de uma obra mais recente faz, propositalmente, uma alusão a uma obra anterior. A paráfrase, a paródia e a citação são alguns exemplos de intertextualidade.



O monomito de Campbell (inspiração para o memorando de Vogler)

domingo, 1 de dezembro de 2013

Tabu versus pensamento livre



Tabu versus mártires ou condicionamento versus transgressão: uma breve análise sobre o pensamento livre.


Sigmund Freud em sua obra Totem e Tabu fez uma importante contribuição à antropologia e à psicologia social. O tabu é um dos códigos morais mais antigos que regem a sociedade, portanto, essa obra é leitura recomendada para quem procura entender a relação entre padrões de comportamento e a organização social. Outra importante obra de Freud no campo social é Psicologia das Massas e a Análise do Eu. De acordo com o pai da psicanálise, a transgressão de um tabu conduz o transgressor à sua expulsão do grupo ou a uma punição imposta pelo grupo do qual o transgressor faz parte. Entre as sociedades primitivas, acreditava-se que deste modo evitar-se-ia que uma maldição recaísse sobre todo o grupo. Esse princípio pode ser observado em todos os grandes primatas que se organizam em bando e constituem hierarquias, como gorilas, chimpanzés, babuínos e os seres humanos. A punição ou expulsão do indivíduo transgressor é o primórdio do moderno Direito Penal.

Tanto Freud quanto o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss demonstram que a organização social em torno de uma Lei teve início em sociedades primitivas a partir da proibição do incesto. Desde então outros tabus surgiram e evoluíram em sua complexidade. Resta saber quanto de nosso instinto primata permanece a nos determinar e se há possibilidade de termos um pensamento livre e original apesar de todo o condicionamento biológico e psíquico que sofremos.

Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates foi condenado à morte, acusado de corromper a juventude ateniense e ser ímpio perante os deuses. Sócrates não escreveu nada, tudo o que sabemos sobre ele vem dos textos escritos por seus discípulos. Nem mesmo há provas de que ele realmente tenha existido. Ainda assim, sua história é um dentre muitos exemplos da punição que recai sobre aquele que transgride um tabu. Mas que tabu Sócrates transgrediu?

Ao questionar todo conhecimento vigente em sua época, Sócrates atraiu a atenção dos jovens e colocou em discussão a autoridade de seus interlocutores, atraindo a ira destes para si. Entre os gorilas, quando o macho-alfa tem sua autoridade questionada, ele expulsa ou mata o seu rival. Analogamente, os acusadores de Sócrates eram homens que tinham muito a perder com aquele filósofo ensinando os jovens a pensar por eles mesmos e a questionar o saber dos mais velhos. Logo, Sócrates foi julgado, preso e executado. Ele não transgrediu necessariamente um tabu moral, mas ensinava seus discípulos a pensar por si só, o que leva, com o tempo, ao questionamento de certas Leis, princípios morais, tabus e dogmas.

Em todas as manifestações artísticas ao longo da história há exemplos de incompreensão, censura e perseguição, tanto para o artista que rompeu paradigmas formais quanto para aquele que, em sua arte, ousou questionar um tabu. O exemplo de Sócrates talvez sirva para entender a história de vários outros mártires, como Gandhi. Considerando todo o condicionamento que historicamente sofremos, talvez não seja exagero dizer que o pensamento livre é uma anomalia da espécie, um desajuste mental que leva um indivíduo a ser criativo e destacar-se da massa. Em pouco tempo esse indivíduo passa a ser visto como subversivo. Seu instinto de autopreservação não funciona como na maioria. Ele desafia a si mesmo e arrisca sua segurança em nome de um ideal que afirma ser maior que ele mesmo. Sócrates dizia ouvir uma voz interior, Gandhi seguia princípios religiosos, outros se tornaram mártires ao defenderem com a vida uma ideologia política. Logo, o pensamento livre é possível, mas, às vezes, cobra um preço muito alto daquele que ousa pensar.


Sócrates entre seus discípulos como no livro Fédon.

Resumo aos estudantes: política, economia e sociedade



1- Formas de governo

Clã: A família é o núcleo de toda e qualquer sociedade. Na tradição, a família é formada por um pai, uma mãe e seus descendentes naturais. Várias famílias reunidas, convivendo juntas, formam um clã.

Tribo: A tribo é formada por vários clãs que juntos fazem suas leis, justiça e se auto-governam. As pessoas dividem as tarefas e em algumas tribos os bens também são comunitários. Elas têm em comum a língua e as crenças religiosas, mas não formam um Estado com poder central. Podem ter um chefe tribal, mas as decisões são tomadas em conjunto com toda a tribo.

Monarquia: As monarquias têm reis, príncipes ou imperadores como os donos do poder e este poder é hereditário. A fonte do poder dos reis é baseada no "direito divino". Na monarquia parlamentarista o rei não detém o poder político, este fica a cargo do Primeiro Ministro. O rei então se torna apenas um símbolo do Estado.

República: Sistema que se opõe à monarquia. Na república não existe monarca, mas existe um Estado com poder centralizado. O poder “emana do povo”. A república pode ser presidencialista (com presidente eleito diretamente pelo povo) ou parlamentarista (com um Primeiro Ministro eleito pelo parlamento que representa o povo).


2- Práticas políticas

Autocracia: Uma pessoa sozinha governa as massas, dita as leis e as muda conforme a sua vontade.

Oligarquia: Um grupo restrito de pessoas governa as massas, dita as leis e as muda conforme a vontade daquele mesmo grupo que detém o poder.

Essas duas práticas (ditatoriais) podem se apresentar com:

a) Autoritarismo: É uma ditadura exercida por uma pessoa (autocracia) ou um grupo (oligarquia). Não conta com o apoio das massas.

b) Totalitarismo: É uma ditadura (autocrática ou oligárquica) na qual há uma ideologia ou um objetivo maior por trás de todo o poder. Geralmente conta com o apoio das massas, sugerindo uma união entre os indivíduos em prol de todos.

Democracia: Os cidadãos fazem as leis, a justiça e governam por eles próprios (democracia direta) ou por meio de seus representantes eleitos (democracia representativa). O ideal de democracia é opor-se à ditadura, mas a democracia também pode ser entendida como “ditadura da maioria” ou “ditadura constitucional” (ditadura das Leis).


3- Ideologias

Ideologias de Direita: São aquelas que tentam manter a ordem social vigente, isto é, manter os privilégios de uma elite (portanto, são ideologias conservadoras). Pregam o liberalismo econômico (livre concorrência) e acreditam na “méritocracia”.

Ideologias de Esquerda: São aquelas que tentam extinguir as diferenças entre classes sociais (portanto, são revolucionárias). Reivindicam a justiça social fundamentada em princípios como a igualdade.


Fascismo/Nazismo: Foram autocracias (ditaduras) totalitárias (com apoio das massas) e nacionalistas. No plano político, se opuseram tanto à monarquia quanto à democracia. No plano econômico, se opuseram tanto ao capitalismo quanto ao comunismo. São consideradas como ideologias de extrema-direita.


4- Sistemas econômicos

a) Relações entre Estados

Mercantilismo: Uma metrópole controla toda a economia de uma ou mais colônias. As colônias não possuem autonomia econômica nem política.

 Imperialismo: As colônias possuem alguma autônima política (uma pequena parcela de poder delegada a um representante regional), porém subordinada a um outro Estado. No plano econômico as colônias não possuem nenhuma autonomia.

O Mercantilismo e o Imperialismo são os “embriões” do capitalismo moderno e do “liberalismo econômico”.


b) Relações entre pessoas (classes sociais)

Feudalismo: O senhor feudal é proprietário de uma terra (meio de produção) onde os servos (sem terra) trabalham para ele. A produção econômica é para a subsistência, o senhor feudal ganha a maior parte enquanto a menor parte é dividida entre os trabalhadores. Não há possibilidade nenhuma de mobilidade social. Se baseia no “direito divino”.

Capitalismo: sistema econômico que se baseia no liberalismo econômico, o qual prega a livre competição entre trabalhadores, o livre comércio de mercadorias sem interferência do Estado e principalmente a propriedade privada. O capitalismo pode ser democrático ou ditatorial. Em qualquer caso, o capitalismo é marcado pela concentração de renda, formando uma “pirâmide social”. A sociedade consequentemente é dividida em classes (da mais rica às mais pobres) e é caracterizada pela contradição entre burguesia (donos dos meios de produção) e proletariado (trabalhadores sem posses). Segue uma lógica semelhante ao Feudalismo, porém, no capitalismo há alguma (pequena) mobilidade social e a relação produção-consumo é estimulada. O capitalismo não se baseia no “direito divino”, mas num direito adquirido, acreditando na “méritocracia”.

Socialismo: É chamado também de “ditadura do proletariado”. Opõe-se à desigualdade social gerada no capitalismo, opondo-se principalmente ao liberalismo econômico e à propriedade privada (de terras e indústrias). O socialismo é um movimento revolucionário (prega a mudança radical) do sistema político-econômico. É uma forma de totalitarismo. A contradição não é mais entre burguesia e proletariado, mas entre Estado e povo. A propriedade passa a ser do Estado e as pessoas trabalham para o Estado.

Comunismo: Seria a última etapa do Socialismo na qual o Estado não mais existiria e as pessoas trabalhariam em cooperativas. É uma tentativa radical de eliminar as contradições políticas e desigualdades sociais de outros sistemas.

Anarquia: Ausência de Estado (ausência de poder centralizado). É o auto-governo do povo (sem representantes). Também é chamado de “socialismo libertário”, contudo, acredita em atingir o comunismo sem passar pela etapa do socialismo.

Social-Democracia: Seria um Estado que combina um capitalismo democrático com políticas sociais típicas do socialismo (educação e saúde para todos independentemente de classe social). Não é revolucionário, mas reformista, isto é, tenta diminuir os impactos negativos do capitalismo sem extingui-lo.


5- Alguns teóricos e obras

Platão – Sintetiza suas ideias gerais na obra “A República”.

Dante Alighieri – Apresenta suas ideias políticas na obra “Da Monarquia”.

Maquiavel – Teoriza sobre o poder na obra “O Príncipe”.

Thomas Hobbes – É um teórico do contrato social. Sua principal obra é “O Leviatã”.

Montesquieu – Sistematizou a divisão dos poderes: executivo, legislativo e judiciário. Uma de suas obras mais importantes é “O Espírito das Leis”.

Adam Smith – Defendeu o liberalismo econômico na obra “A riqueza das Nações”.

Karl Marx – É um teórico do socialismo científico. Fez críticas ao capitalismo em “O Capital” e “O Manifesto do Partido Comunista” e em muitas outras de suas obras.

Bakunin – Foi um anarquista teórico. É uma referência para pensadores atuais como o linguísta Noam Chomsky.

Proudhon – Foi um anarquista teórico. Fez críticas à propriedade privada.

sábado, 19 de outubro de 2013

Famosos que estudaram Letras




Algumas celebridades com graduação em Letras:

B. F. Skinner
(Psicólogo comportamental, Bacharel em Literatura Inglesa)

Jodie Foster
(atriz e diretora, Bacharel em Literatura por Yale)

Brooke Shields
(atriz americana, Bacharel em Literatura Francesa por Princeton)

Emma Thompson
(atriz, Bacharel em Literatura Inglesa por Cambridge)

Hugh Grant
(ator, Bacharel em Literatura Inglesa por Oxford)

Tommy Lee Jones
(ator e diretor, Bacharel em Inglês por Harvard)

Stephen King
(escritor best seller, Bacharel em Inglês)

Paul Simon
(cantor e compositor, Bacharel em Inglês)

Sigourney Weaver
(atriz, Bacharel em Inglês)

James Franco
(ator, Bacharel em Inglês)

Renée Zellwegar
(atriz, Bacharel em Inglês)

Bill Maher
(comediante de stand up, apresentador de talk show, cineasta e escritor,
Bacharel em Inglês e História)



... Graduação em áreas afins:

Meryl Streep
(atriz, Bacharel em Drama e Mestrado em Artes)

Adam Sandler
(ator, cineasta, Mestrado em Artes)

Sandra Bullock
(atriz, Bacharel em Drama)

Denzel Washington
(ator, Bacharel em Teatro)

Bill Cosby
(comediante, Mestrado em Educação)


Para saber mais:
http://www.rasmussen.edu/student-life/blogs/main/100-Celebrities-with-College-Degrees/

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Por que cursar Letras?



LETRAS – Definitivamente é um curso que eu recomendo e que eu até faria de novo. Por que de novo? Porque a reflexão sobre assuntos como língua, discurso, texto e literatura não tem fim. Cada professor tem algo a contribuir com sua visão especializada, isso torna o estudo sempre inovador e cativante. 

O curso permite, além de um aprofundamento no campo da língua e do texto, também uma comunicação com disciplinas diversas, sendo assim essencialmente multidisciplinar. 

Estando na área de Humanas, há disciplinas básicas como: Filosofia, Psicologia e Sociologia. Mas a graduação em Letras especificamente terá disciplinas como “Leitura e Produção Textual” e Latim. E quando for uma Licenciatura, ainda haverá disciplinas como Didática e Prática do Ensino.  

Contudo, o mais importante do curso são estas três disciplinas: Gramática, Literatura e Linguística. Aí está a essência do curso! Elas são as três colunas que sustentam a graduação em Letras, por isso, passo agora a descrever um pouquinho de cada uma.


Gramática
Pode ser dividida em descritiva e normativa. Por uma conveniência (e convicção pessoal), vou incluir aqui as noções de fonética, fonologia e fonomorfologia, pois considero-as como básicas para o início do curso. Sendo assim, a Gramática estudaria: fone, palavra, frase, oração e período composto. Neste caso, o estudo dividir-se-ia em:
1-     Fonética, Fonologia e Fonomorfologia;
2-     Morfologia (nominal e verbal);
3-     Sintaxe (frase, oração e período composto).


Linguística
Ciência que estuda a língua em todos os seus aspectos teóricos e práticos, fornecendo uma visão crítica sobre gramática e língua. A Linguística não está preocupada em determinar o que é “erro”, mas sim, conhecer as razões (e intenções) por trás de uma mensagem. O estudo divide-se em disciplinas como:
- Semântica
- Linguística Textual
- Linguística Aplicada
- Linguística Histórica (Filologia)
- Estilística
- Análise do Discurso
- Pragmática
- Sociolinguística
Eu também incluiria aqui a Semiótica/Semiologia.
  

Literatura
 Se a Linguística é o cérebro do curso de Letras, a Literatura é o coração e a alma!
(Eu diria que a Gramática é o esqueleto).
 Na disciplina de Teoria Literária o estudante tem contato com a retórica, a dialética, as artes (técnicas) de produção textual em diversos gêneros e formatos, além de estudar as teorias que fundamentam a crítica literária, ou seja, as questões teóricas sobre análise de texto. E na disciplina de Literatura, ele fará um passeio pela História da Literatura, aprendendo a reconhecer características singulares de textos de autores consagrados e movimentos artísticos relevantes (alguns revolucionários) e determinantes para a história da humanidade, além de ler, entender e analisar textos criticamente.
 Eu poderia enumerar assim os benefícios dos estudos literários:

 - Conhecer histórias, culturas, tradições, correntes, doutrinas, teorias e escolas de pensamento filosófico e artístico.
 - Expandir e desenvolver o pensamento, a fala, a escrita e o entendimento de mundo;
 - Identificar gêneros textuais, tradições, símbolos, ritos, alegorias e tabus que permearam e permeiam o imaginário humano;
 - Desenvolver a criatividade e o pensamento crítico sobre a linguagem, o mundo e sobre si mesmo;
 - Melhorar consideravelmente os conhecimentos sobre língua e linguagens, melhorando assim a estrutura de seu pensamento e de sua expressão oral e escrita.
  

O que ser e onde trabalhar quando se formar em Letras?
 - Professor e pesquisador (empresas públicas, privadas e autônomo);
- Revisor de texto (empresas públicas, privadas e autônomo);
- Palestrante/ orador/ coordenador de cursos de oratória, comunicação empresarial e treinamentos em empresas;
- Assessor ou consultor em empresas ou departamentos de comunicação e marketing (jornalismo, publicidade, relações públicas, comunicação integrada etc).
- Redator (revista impressa, blog, sites de internet etc);
- Colunista (jornal);
- Autor de material didático (gramática, dicionário, apostila etc);
- Escritor literário (romancista, contista, cronista, poeta);
- Dramaturgo (teatro), autor de telenovelas (TV); roteirista (cinema);
- Curador de arte, crítico literário, crítico de cinema, filólogo.

Se for uma graduação em Letras-Inglês ou Letras-Espanhol o curso ainda possibilita ser:
- Professor de língua estrangeira;
- Tradutor/intérprete (em empresas de informática, internet, comércio internacional, engenharia, editoras etc).

Sempre é possível ganhar muito dinheiro como autônomo (professor particular, revisor de monografias, tradutor etc). A graduação em Letras-Português fornece também uma boa base para provas de concurso público. E no campo da Educação há muita oferta de trabalho (e haverá cada vez mais).

Toda forma de conhecimento, pensamento, comunicação e expressão passa pela língua e pela linguagem. Portanto, o campo é vasto, as possibilidades infinitas e o mercado de trabalho está sempre carente desse profissional. Há tantas formas diferentes de se comunicar algo e, para cada uma delas, tantas consequências... Por isso nunca é demais ter cuidado com a língua!

LETRAS é um curso enriquecedor e apaixonante. E o que se aprende é para ser levado por toda a vida! Este blog não existiria se isso tudo não fosse verdade.



terça-feira, 23 de julho de 2013

Uma história sobre vingança e perdão


Numa Índia deflagrada pela guerra civil entre hindus e muçulmanos, Mahatma Gandhi, profundamente entristecido pela violência que seus olhos testemunhavam, iniciou uma greve de fome, estando disposto a morrer se a paz não fosse restaurada. Depois de algum tempo em jejum, Gandhi já estava muito fraco, não podendo mais se levantar. Certo dia, eis que chega um homem hindu desesperado, joga-lhe um pedaço de pão e diz:

Homem: Coma! Coma! Eu vou para o Inferno, mas não com a sua morte na minha alma!
Gandhi (com voz fraca) : Só Deus decide quem vai para o inferno.
Homem: Eu matei uma criança! Esmaguei a cabeça dela contra a parede!
Gandhi: Por quê?
Homem: Porque eles mataram o meu filho! Meu menino! Os muçulmanos mataram o meu filho!

O homem se mostra amargamente arrependido, desfazendo-se em lágrimas. Mas o mestre, em sua sabedoria, diz:

Gandhi: Conheço um jeito de escapar do inferno, meu filho. Encontre uma criança cujos pais tenham sido mortos, um menino mais ou menos da mesma idade, e crie-o como se fosse seu. Mas há uma condição: Ela deve ser muçulmana e você terá que educá-la dentro dos princípios desta religião.

(Cena do filme “Gandhi” de 1982)



Mahatma: "Grande Alma"


Como ninguém queria ver um homem bom morrer, os conflitos cessaram e Gandhi então voltou a comer. Ele nunca recebeu um Prêmio Nobel da Paz.


Charles Chaplin e Gandhi















"As gerações futuras terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra" (Albert Einstein)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Neologizando



Venho hoje expor da forma mais claricrítica possível um assunto que julgo da maior relevanseriedade.

Vejam só uma ideia titiquizada pelos meios de fanfarração capaz de faniquitizar até os sujeitos mais filoipodianos da nossa sociedade internetual. Dizem as propagandagens que a geringonçologia reduziu a distanciometria entre as pessoas, quando na factualidade eu observo o oposto. E tenho por mim que muitos hão de concordar.

A geringonçologia distanciometrizou as interludicâncias que antirrecentemente presenciávamos, por exemplo, na família. Sei que corro o risco de soar nostalgidonho para alguns, mas a comalmoçonicação que antes havia em torno das mesas ficou cada vez mais rara. Hoje o cidadão selfservi-se para comer isolado no quarto, na telecompanhia dos audiovisuais. Concluí disso que a conexão geringocêntrica reduziu o contato humano.

Por outro lado, a bugigangodância dos dias atuais está constantemente invadizoando a nossa privacidade. Todos nós estamos expostos ao paparazismo do clique alheio. Esta é a logiquência do poder do celular nas mãos de uma sociedade nem um pouco fofocofóbica. Qualquer um, em qualquer lugar, pode ter sua vida xeretalhada por voyeuripócritas a qualquer hora.

Mas para mim, toda essa parinfernália só confirma a mixuriqueza de nossa economia tutuísta, baseada no acúmulo e status (por mais clichetitivo que isso soe). Venderam-nos a ideia de plugabilidade, mas o que recebemos foram apenas bugigangodíces que tornaram nosso modo de vida cada vez mais colonlinealista.

domingo, 9 de junho de 2013

Resenha do livro: “Crítica ao fetichismo da individualidade”






















FICHA TÉCNICA
Título: Crítica ao fetichismo da individualidade
Autor: vários. Organização de Newton Duarte.
Ano: 2012, 2ª edição.
Editora: Autores Associados


Esta é uma obra que recomendo fortemente a professores, estudantes de licenciaturas e pesquisadores da área educacional. E vou mais além, diria que esta obra é uma leitura obrigatória nos nossos tempos.

A coletânea organizada por Newton Duarte trata de temas como: problemas na concepção pós-moderna de indivíduo, crítica à pedagogia das competências, atitude antiescolar, ideologia nas teorias de linguagem, contradições na gênese da história da psicologia, o fetichismo da infância, a imagem idealizada de família e como esta imagem é alimentada por educadores e psicólogos. Isso apenas para citar alguns dos assuntos que são objetos de reflexão em cada um dos nove capítulos deste livro.

Os textos possuem uma abordagem humanista e extremamente atual. Em comum, todos os autores partilham do método histórico-dialético contemporâneo. Ao longo de debates teóricos, outras abordagens também surgirão e serão analisadas, desde Freud, Piaget e Vigotski até a teoria dos atos de fala, entre outras.

Os autores são: Alessandra Arce, pós-doutora em história e filosofia da educação; Dermeval Saviani, filósofo e livre-docente em história da educação; Maria Sílvia Cintra Martins, graduada em Letras, doutora em Linguística; Marilda Gonçalves Dias Facci, pós-doutora em psicologia; Silvana Calvo Tuleski, psicóloga e mestra em educação; Lígia Márcia Martins, psicóloga, livre-docente em psicologia da educação; João Henrique Rossler, psicólogo, doutor em educação; Sonia M. Shima Barroco, psicóloga, mestra em fundamentos da educação; Newton Duarte, pedagogo e livre-docente.

Destaco aqui os textos de Lígia Márcia Martins e de Sonia M. Shima Barroco pelo modo excelente como souberam problematizar o tema em seus respectivos capítulos e pela forma consistente como desenvolveram suas críticas.

Também gostei muito da introdução redigida pelo organizador do livro, na qual ele demonstra habilidade até mesmo para a análise literária, ao abordar a narrativa bíblica.

O nono capítulo, também de autoria de Newton Duarte, apresenta uma reflexão relevante e bem estruturada. Antes de lançar a sua crítica sobre a pós-modernidade, o autor expõe o que os filósofos pós-modernos entendem por individualidade.


DUARTE, 2012, p. 198:


Segundo os pós-modernos, o indivíduo típico da modernidade seria ativo, empreendedor, um explorador tentando submeter a seu domínio racional as forças da natureza, incluídas aquelas que a espécie humana carrega em si. [...] Por sua vez, o pós-modernismo afirma que não existe esse indivíduo com um núcleo essencial de identidade, pois todas as pessoas são fragmentadas e aquilo que nos habituamos a chamar de individualidade estaria em contínuo processo de dissolução. Segundo os pós-modernos, todo indivíduo se divide em papéis múltiplos e efêmeros, em máscaras descartáveis, estando a personalidade em contínua dissolução no fluxo caótico de uma realidade sociocultural [...]. ¹


Partindo desse ponto, o autor estabelece diálogos com os pós-modernos, problematizando item por item, dialeticamente. Seu texto marca pontos com o leitor ao oferecer uma reflexão didaticamente formatada, sem desapontar na riqueza e profundidade teóricas.

Em resumo, a obra completa é um convite à superação da alienação. Uma leitura provocativa e indispensável.



¹ DUARTE, Newton (org.). Crítica ao fetichismo da individualidade.
Campintas, SP: Autores Associados, 2012.

sábado, 25 de maio de 2013

“Eu não gosto de poesia”.

Quantas vezes já ouvimos alguém proferir a frase: “Eu não gosto de poesia” ou “Eu não gosto de literatura”. A estas pessoas, eu fraternalmente dedico esta postagem.

Já comentei sobre a necessidade inata da arte. O fato de haver pinturas pré-históricas em cavernas mostra que a necessidade do homem em se expressar é mais antiga que a preocupação em construir casas. Ou seja, a pintura é mais antiga que a engenharia civil. De fato, a pintura é mais antiga até que a matemática, a medicina e o direito.

Também já comentei que arte é a palavra que designa habilidade, técnica (techne, em grego), ou seja, a capacidade que o homem tem de criar algo artificial, algo que imite (mimesis, em grego) a natureza. Nesta definição, toda a ação humana para modificar o mundo natural seria classificada como arte. E o que é poesia? Assim como a física (physis) estuda os fenômenos naturais, a poesia (do grego: póiesis = fabricação) estuda as ações fabricadas pelos homens. A alquimia tradicional seria uma das formas de unir a physis e a póiesis. A antiga filosofia (philosophia = amor à sabedoria) era a metodologia de organização do pensamento e também a união de toda ciência (sabedoria) fabricada até então: matemática, química, retórica, política, medicina etc. Tales de Mileto, Pitágoras, Demócrito, Sócrates e Hipócrates são alguns filósofos cujos trabalhos ilustram isso.

E onde entra a literatura? Como arte da escrita (do latim: littera = letra), abarcaria toda a técnica (techne) da argumentação (retórica para os gregos, oratória para os romanos) e a estética da produção textual escrita e oral. Os estudos literários englobam a palavra em todas as suas formas e gêneros:
Lírica – a palavra cantada, a partir das emoções do eu subjetivo;
Narrativa – a palavra narrada/falada, a partir das percepções do narrador;
Dramática – a palavra encenada/representada, a partir das percepções de várias personagens (personalidades) simultaneamente.
Ou seja, a literatura desde a sua concepção esteve intrinsecamente ligada às outras artes: a música (na lírica), o teatro (no drama) e mais atualmente o cinema (haja vista a variedade de novelas, romances, histórias épicas e peças dramáticas adaptadas para a tela). Não obstante, é no roteiro original que o cinema se apresenta como novidade, criando um novo texto e um novo gênero literário.

O cinema é a fotografia em movimento e também a palavra apresentada a partir do foco da câmera (esta funcionando como o narrador). É por excelência a arte (techne) do século XX e a fusão de várias artes, dentre elas: a pintura (iluminação, maquiagem, efeitos especiais e pós-produção), a literatura (o roteiro, a trama), o teatro (a representação dos atores) e a música (a trilha sonora como parte importante da narrativa dramática, análoga ao coro dos teatros gregos). Se há ainda alguma dúvida de que o cinema é um gênero a ser contemplado pelos estudos literários, basta lembrar que alguns dos fundadores da semiologia/semiótica (hoje muito usada para analisar o cinema) eram críticos literários (exemplo: Roland Barthes e Umberto Ecco).

Tendo explanado os fatos acima, retomo a questão inicial desta postagem. Como eu diria hoje a alguém que ela gosta (e necessita) da poesia/arte/literatura em sua vida, mesmo que ela não conheça o real significado desses conceitos? Primeiro eu evitaria adentrar em definições teóricas (como fiz acima) e então montaria o seguinte questionário (como fiz abaixo) com comentários feitos a cada resposta obtida:

Você gosta de filmes/música?
Se sim, então você gosta de poesia/arte/literatura.

Você imagina a sua vida sem filme/música?
Se não, logo, mesmo que você não entenda a razão, você sente a importância e a necessidade da poesia/arte/literatura em sua vida.

Esses filmes e músicas a emocionam? Eles lhe fazem rir ou chorar?
Se sim, sua relação com poesia/arte/literatura é muito forte, sensível, pessoal, consequentemente demonstra que essa necessidade é inata.

Os filmes e músicas de que você gosta lhe acrescentam reflexões?
Se sim, você tem alguma consciência de que a arte não é apenas entretenimento, de que ela é, portanto, uma reflexão importante sobre o mundo, a natureza das coisas, o ser humano, a sociedade e a vida.

Conclusão:
Se você gosta de filmes e músicas tanto quanto me diz, você ama a arte, mas não aprendeu a ter gosto pela leitura e pelo estudo dela. O estudioso de Letras especialista em estudos literários aprende a analisar criticamente as ideologias por trás de cada texto, deixando de ser uma vítima inconsciente do conhecimento e passando a ser um produtor consciente, da mesma forma que o artista deixa de ser uma vítima da sociedade e passa a ser um formador de opinião.

Feito isso, tenho por finalizado o questionário e a argumentação, comprovando meu ponto de vista e convencendo o meu interlocutor da necessidade inata e importância imperativa das artes. Retomo a partir de agora a reflexão teórica juntamente com os leitores deste blog, e ao fazê-lo, resgato uma postagem anterior para afirmar o seguinte: Não há comunicação possível sem catacrese, metáfora e outras figuras de linguagem. Você, estudante de Letras, pode analisar qualquer texto oral ou escrito e notar que todos eles fazem uso dessas ferramentas linguísticas e que não seria possível haver a comunicação de ideias sem essas ferramentas. Este fato é outro indicativo da importância imprescindível dos estudos literários e linguísticos.


Filosofia e literatura (ou vice-versa)

Isto daria pano para uma outra postagem (das longas), mas não sei se farei. Por um lado, acho óbvio demais dizer o que vou dizer, por outro, acho inútil argumentar com quem ainda insiste numa separação radical entre essas duas disciplinas, portanto, vou diretamente à apresentação dos fatos em três pontos de vista diferentes.

1- Filosofia e literatura são basicamente a mesma coisa
A filosofia é a reunião de vários saberes, a literatura também. A filosofia é o amor pelo conhecimento e este é produzido pela arte da escrita, a literatura, consequentemente, uma coisa não existe sem a outra. Alguns filósofos (como Jacques Derrida) diziam que a filosofia pode ser lida como literatura e que esta pode ser lida como filosofia.  Portanto, a separação entre essas duas disciplinas seria meramente didática. Ou ainda, a separação seria forçosa e sem critérios, porque não há.

2- Literatura é um ramo da filosofia
A filosofia foi pioneira na produção da matemática, das ciências naturais, da lógica, da história, da política e também a arte da argumentação. A literatura seria a parte da filosofia que se ocupa do discurso verbal, ou seja, de todas as ciências mencionadas acima, exceto a matemática e as ciências naturais (apesar de poder também reportar-se a elas, e isso ocorre frequentemente). 

Poema de E. M. de Melo e Castro

















Assim sendo, quando Platão estudava os números pitagóricos, ele estava fazendo matemática, quando Platão escrevia diálogos, ele estava fazendo literatura. Em ambos os casos, ele era um filósofo.

3- Filosofia é um ramo da literatura
Jorge Luís Borges e vários outros diziam sarcasticamente que a filosofia seria um ramo da literatura fantástica.

Conclusão:
Particularmente, acredito nos três pontos de vista. Também acredito na separação entre filosofia e literatura, mas vejo isto como uma idealização do Romantismo, algo muito atual se considerarmos toda a história. No meu entendimento, a filosofia muitas vezes se apresenta como uma teoria, enquanto a literatura como uma alegoria. Isto é, a filosofia idealiza as práticas sociais, a literatura mostra essas práticas. Mas não há uma regra, tanto a literatura como a filosofia podem fazer os dois e ambas podem recorrer à ficção, haja vista os inúmeros exemplos de literatura verídica e filosofia fictícia, contradizendo o senso-comum. Vejo o gênero textual como a única diferenciação objetiva entre filosofia e literatura. A literatura como concebida hoje se manifesta em vários gêneros: dissertação, lírica, narrativa e drama (e sempre há uma mescla entre esses gêneros). A filosofia como concebida hoje se apresenta como uma dissertação.

Com isso, finalizo a postagem esperando ter sido claro em minha reflexão e desejando que o leitor ao analisá-las faça-o com cuidado.

Por fim, deixo os seguintes pensamentos (o terceiro é de minha autoria).

Jacques Lacan pronunciou a seguinte frase:
“O artista precede o psicanalista”.

– Com isso, o psicanalista queria dizer que a Arte (principalmente a literatura) já tinha antevisto muitas das descobertas que a psicanálise faria mais tarde como ciência.

Bertolt Brecht já disse que:
“Se não morre aquele que escreve um livro ou planta uma árvore, com mais razão não morre o educador, que semeia vida e escreve na alma”.

“O conhecimento provém, em parte, da experiência direta, empírica e real. Também é formado em parte pela linguagem, isto é, a criação de rótulos para analisar, traduzir e descrever o universo. A sabedoria (se é possível alcançá-la) é a união crítica e metódica dessas partes”.