segunda-feira, 17 de março de 2014

Música + Cinema: produções para ver e rever



Dicas de filmes que tratam da música e tudo o que o seu universo envolve.



Amadeus (Amadeus, 1984) – Adaptado de uma peça teatral, este filme foi vencedor de 8 (merecidos) Oscars, incluindo o de melhor filme. A vida do compositor classicista Wolfgang Amadeus Mozart é contada na ótica de seu rival Antonio Salieri (F. Murray Abraham numa atuação emocionante!). Há muitas coisas para se destacar nesta obra-prima, mas escolho a cena em que o réquiem de Mozart é composto, na qual o espectador ouve instrumento a instrumento, como se estivesse dentro da cabeça do compositor. Mas não poderia deixar de mencionar também a cena em que Salieri descreve de forma arrebatadora a música que lê nas partituras de seu rival. O texto é belíssimo, enquanto a trama envolve questionamentos sobre a fé e sentimentos como a inveja e a ambição. Nesta produção a música parece reger o filme, e não o oposto como é de costume. Desde o seu início, som e imagem prendem o fôlego do espectador. A direção é de Milos Forman.



Quase Famosos (Almoust Famous, 2000) – No início da década de 70 tá rolando tudo! – como diria a personagem Penny Lane. O enredo semiautobiográfico escrito e dirigido por Cameron Crowe gira em torno de um jovem de 15 anos que tem a chance de excursionar com uma banda de rock, fazendo a cobertura da turnê para a revista Rolling Stone, publicação especializada em crítica musical. A banda em questão é Stillwater, um grupo fictício com repertório criado especialmente para o filme. O roteiro é leve, adorável, divertido e empolgante. Ao assistir a esta história, não estranhe se você se sentir nostálgico de uma época em que a música era mais apaixonante do que é hoje e o mercado fonográfico era mais inocente, antes de ele arruinar o rock and roll e tudo o que amamos nele. É um filme sobre viagens, festas, ilusões e pessoas tentando não dizer adeus. A trilha sonora também inclui canções de Led Zeppelin, Yes, Simon & Garfunkel, Deep Purple, Black Sabbath, Jimi Hendrix, Elton John, entre outras.



Hair (Hair, 1979) – Musical adaptado da Broadway para o cinema, conta de modo bem humorado sobre o modo hippie de viver. Tudo começa quando um jovem do interior vai à Nova York para se alistar no exército, mas no caminho depara-se com um grupo de hippies. Desse encontro surge paixão, amizade e aventuras que conduzem a trama a um final inesperado. As canções abordam temas como sexo, uso drogas, misticismo e, é claro, a Guerra do Vietnã. A cena em que Berger dança sobre a mesa é impagável! Esta e muitas outras cenas, além da trilha sonora e de um ótimo roteiro, fazem desta produção uma obra para ser vista e revista. Direção de Milos Forman.



 The Doors (The Doors, 1991) – Apesar das críticas de Ray Manzarek (tecladista dos Doors) sobre o roteiro ter exagerado ao mostrar um Jim Morrison sempre bêbado, o filme de Oliver Stone vale a pena pela trilha sonora e atuação impecável de Val Kilmer no papel do poeta do rock. Data máxima venia, o exagero torna-se justificado pela fama lendária que cerca de forma quase indissociável a breve carreira de Jim Morrison. Se o diretor focou demais nas extravagâncias do cantor é porque elas ajudaram a fazer dele uma lenda do rock e se não fosse por essa excentricidade o filme não despertaria tanto interesse. Mas fica a dica: é um filme baseado em fatos reais, mas não é um documentário, portanto, não devemos encará-lo como sendo uma biografia do ídolo. Em resumo, o filme é válido na sua intenção e sublime na sua arte. O casamento entre músicas e cenas é de um primor raro, superando em muito os videoclipes da MTV.



 Backbeat – Os 5 rapazes de Liverpool (Backbeat, 1994) – Filme baseado na história dos Beatles antes de alcançarem fama, ainda na época em que começaram a tocar em casas noturnas da Alemanha. O enredo tem a banda como pano de fundo, mas prefere focar na curiosa história do artista plástico Stuart Sutcliffe, que por um breve período tocou com os Beatles. A amizade entre Stuart e John Lennon, a paixão de ambos pela fotógrafa Astrid Kirchherr, as brigas, sonhos e dilemas são mostrados como o gatilho para o que viria a ser o fenômeno Beatles. Mas não espere ouvir canções de Lennon-McCartney aqui. A trilha sonora é composta de canções de Chuck Berry e outros dessa geração que inspirou os Beatles e sempre fez parte de seu repertório de covers. A produção é pequena, mas cumpre bem o seu papel. O filme cria uma atmosfera em torno da pintura abstrata, da poesia simbolista francesa, da fotografia artística, casando tudo isso com rock and roll. Neste casamento, acertou em cheio!


Bônus: não poderia deixar de fora estas produções nacionais...


Cazuza – O tempo não para – Uma história chocante contada por uma poesia inspiradora. A narração do Cazuza-personagem explicando suas motivações em cada ato é o maior acerto desta produção. A cena de Cazuza no mar, com música de Lobão: “Vida louca, Vida breve, Já que eu não posso te levar, Quero que você me leve” é a entrega final, a aceitação do irremediável destino.


Somos tão jovens – Thiago Mendonça interpreta Renato Russo para contar nesta produção a história do nascimento do punk-rock de Brasília. A trama se concentra no Aborto Elétrico, mencionando a Plebe Rude e o Capital Inicial, até que a Legião Urbana se forme e faça a sua grande estreia.  A cena em que tocam “Ainda é Cedo” se destaca como a mais cativante do filme.

Gonzaga de pai pra filho – Excelente produção nacional sobre a vida de Luiz Gonzaga, o rei do baião, e Gonzaguinha: dois entre os maiores nomes da música popular brasileira. Atuações emocionantes, direção impecável e trilha sonora perfeita!


Outros que considero muito bons e recomendo:

- La Bamba (La Bamba, 1987) sobre o astro do rock Ritchie Vallens.
- A Fera do rock (Great balls of fire, 1987) sobre o pianista Jerry Lee Lewis.
- The Commitments – Loucos pela fama (The Commitments, 1991) sobre uma banda fictícia que tenta reviver as emoções da soul music na Irlanda.
- Minha amada imortal (Immortal Beloved, 1994) sobre Ludwig Van Beethoven.
- Dois filhos de Francisco, produção nacional sobre a infância e início do sucesso de Zezé Di Camargo. 
 

sábado, 15 de março de 2014

Para quem não lê, para quem lê e não entende e para quem escreve...

Erros comuns de quem lê, mas não CONHECE poesia:

1- Achar que poesia é algo “bonitinho” feito para confortar, alegrar ou enfeitar.

2- Achar que poesia pode ser interpretada de qualquer forma, dependendo da vontade ou subjetividade de cada um.

3- Achar que o conteúdo escrito é válido para todas as épocas, em especial, a SUA.

4- Achar que aquilo foi escrito para alguém específico, digamos... VOCÊ.

5- Achar que qualquer pensamento ou expressão de sentimentos é uma boa poesia.

ENTENDER a poesia é sempre um desafio. Costumo dizer que quem lê e entende poesia, entende qualquer tipo de texto (além de ler o mundo de forma mais crítica e consciente).

A seguir, apresento uma justificativa para cada item numerado acima.


1 - A poesia é uma forma de reflexão retórica. Embora seja bela, por trazer musicalidade em sua forma; e cativante, por organizar o conteúdo de forma lógica, ela não tem o objetivo de agradar, mas apenas de ser uma bela reflexão, isto é, ser a expressão organizada (artística) de uma subjetividade única (original). Então, nunca pense em poesia como sendo algo “bonitinho”, mas sendo uma técnica de argumentação.

2- A poesia tem como objetivo passar uma mensagem esteticamente organizada. Se essa mensagem pudesse ser interpretada de qualquer forma, não haveria razão de ela existir. Todo texto tem uma mensagem que é comunicada ao leitor pelo autor. Embora a poesia tenha sentido amplo, isto não significa que ela possa ser interpretada ao bel prazer do leitor. A motivação do autor (formada pelo seu contexto histórico e psicológico) deve ser levada em consideração para se entender a mensagem de um texto.

3- Nada é tão universal que possa ser interpretado fora de seu contexto (exceto para o New Criticism que valoriza a ambiguidade e as múltiplas interpretações). Cada autor tem uma motivação própria ao escrever. O contexto histórico e psicológico de cada um é dialeticamente determinante na produção do texto (contexto histórico e condições materiais de existência + subjetividade do autor = poesia).

4- É verdade que a poesia une todas as subjetividades individuais em sentimentos comuns a toda espécie humana, mas isto não significa que o autor entenda a subjetividade de seus leitores. Pelo contrário, o leitor deve se esforçar para entender a subjetividade do autor. Esta tarefa nunca será perfeitamente possível, mas o leitor deve se esforçar para assim apreender pelo menos o essencial de cada texto. Ler é um exercício de empatia e isto devemos colocar em prática também em nossas vidas.

5- Se você escreve poesia, não se iluda pensando que seus leitores o entenderão. A moeda mais válida na poesia é a estética, então, ao escrever, capriche na organização formal e na argumentação. Só assim sua produção textual será considerada bela pelos seus leitores, ainda que seja impossível compreenderem inteiramente a sua subjetividade. Ao escrever, ouse ir aos lugares incomuns de sua consciência, mas faça-o de modo textualmente organizado. O bom texto é original em conteúdo, mas técnico em sua forma.

Em resumo, a leitura requer empatia e prática do leitor. A escrita exige, além de uma boa vivência de mundo, um grande conhecimento das ferramentas linguísticas.