sábado, 15 de março de 2014

Para quem não lê, para quem lê e não entende e para quem escreve...

Erros comuns de quem lê, mas não CONHECE poesia:

1- Achar que poesia é algo “bonitinho” feito para confortar, alegrar ou enfeitar.

2- Achar que poesia pode ser interpretada de qualquer forma, dependendo da vontade ou subjetividade de cada um.

3- Achar que o conteúdo escrito é válido para todas as épocas, em especial, a SUA.

4- Achar que aquilo foi escrito para alguém específico, digamos... VOCÊ.

5- Achar que qualquer pensamento ou expressão de sentimentos é uma boa poesia.

ENTENDER a poesia é sempre um desafio. Costumo dizer que quem lê e entende poesia, entende qualquer tipo de texto (além de ler o mundo de forma mais crítica e consciente).

A seguir, apresento uma justificativa para cada item numerado acima.


1 - A poesia é uma forma de reflexão retórica. Embora seja bela, por trazer musicalidade em sua forma; e cativante, por organizar o conteúdo de forma lógica, ela não tem o objetivo de agradar, mas apenas de ser uma bela reflexão, isto é, ser a expressão organizada (artística) de uma subjetividade única (original). Então, nunca pense em poesia como sendo algo “bonitinho”, mas sendo uma técnica de argumentação.

2- A poesia tem como objetivo passar uma mensagem esteticamente organizada. Se essa mensagem pudesse ser interpretada de qualquer forma, não haveria razão de ela existir. Todo texto tem uma mensagem que é comunicada ao leitor pelo autor. Embora a poesia tenha sentido amplo, isto não significa que ela possa ser interpretada ao bel prazer do leitor. A motivação do autor (formada pelo seu contexto histórico e psicológico) deve ser levada em consideração para se entender a mensagem de um texto.

3- Nada é tão universal que possa ser interpretado fora de seu contexto (exceto para o New Criticism que valoriza a ambiguidade e as múltiplas interpretações). Cada autor tem uma motivação própria ao escrever. O contexto histórico e psicológico de cada um é dialeticamente determinante na produção do texto (contexto histórico e condições materiais de existência + subjetividade do autor = poesia).

4- É verdade que a poesia une todas as subjetividades individuais em sentimentos comuns a toda espécie humana, mas isto não significa que o autor entenda a subjetividade de seus leitores. Pelo contrário, o leitor deve se esforçar para entender a subjetividade do autor. Esta tarefa nunca será perfeitamente possível, mas o leitor deve se esforçar para assim apreender pelo menos o essencial de cada texto. Ler é um exercício de empatia e isto devemos colocar em prática também em nossas vidas.

5- Se você escreve poesia, não se iluda pensando que seus leitores o entenderão. A moeda mais válida na poesia é a estética, então, ao escrever, capriche na organização formal e na argumentação. Só assim sua produção textual será considerada bela pelos seus leitores, ainda que seja impossível compreenderem inteiramente a sua subjetividade. Ao escrever, ouse ir aos lugares incomuns de sua consciência, mas faça-o de modo textualmente organizado. O bom texto é original em conteúdo, mas técnico em sua forma.

Em resumo, a leitura requer empatia e prática do leitor. A escrita exige, além de uma boa vivência de mundo, um grande conhecimento das ferramentas linguísticas.

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