quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Sobre o perdão



Ô de casa, eu tô pra lhe dizer

Da glória da história deste homem que nasceu para morrer.



- E você cantou pra ele, encomendador de almas?

- Não houve um funeral, ô mestre das falas.

- Foi ele um homem pobre, encomendador de almas?

- Foi rico espiritual, ô mestre das falas.

- E como era essa riqueza, encomendador de almas?

- Era da sua nobreza, ô mestre das falas.

- Foi ele um rei falido, encomendador de almas?

- Era humilde pra ser rei, ô mestre das falas.

- Quanto humilde era ele, encomendador de almas?

- Lavou os “pé” de doze homens, ô mestre das falas.

- Foi ele um escravo, encomendador de almas?

- Sofreu como se fosse, ô mestre das falas.

- E por onde ele andava, encomendador de almas?

- Por toda, toda parte, ô mestre das falas.

- Foi ele um cigano, encomendador de almas?

- Tão sábio quanto um, ô mestre das falas.

- Quão sábio era ele, encomendador de almas?

- Sabia perdoar, ô mestre das falas.

- E o que mais ele fazia, encomendador de almas?

- Fez grandes proezas, ô mestre das falas.

- Trabalhava em um circo, encomendador de almas?

- Cativante como um, ó mestre das falas.

- Que proezas eram essas, encomendador de almas?

- Respeitava a natureza, ô mestre das falas.

- Era ele algum índio, encomendador de almas?

- Tão puro quanto um, ô mestre das falas.

- E o que mais ele fazia, encomendador de almas?

- Falava com um dom, ô mestre das falas.

- Foi ele um professor, encomendador de almas?

- Igual mal-valorizado, ô mestre das falas.

- O que foi ele afinal, encomendador de almas?

- Foi tudo isso um pouco, ô mestre das falas.

- E como pode isso, encomendador de almas?

- Ele amava a todos, oh irmão poeta.

- E ele viveu bem, encomendador de almas?

- Com morte sofrida, oh irmão poeta.

- E foi matada ou morrida, encomendador de almas?

- Foi morte matada, oh irmão poeta.

- E por que ele morreu, encomendador de almas?

- Ele foi mal compreendido, oh irmão poeta.

- Deixou ele alguma herança, encomendador de almas?

- Esperança do perdão, oh irmão das palavras.

Música e letra compostas em 2001, com registro de direito autoral nº 223.949, livro 393, folha 109, na Fundação Biblioteca Nacional, Escritório de Direitos Autorais, Ministério da Cultura, Rio de Janeiro.  

A letra foi inspirada pelo auto "Morte e Vida Severina" de João Cabral de Melo Neto.