sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Minha Língua




Minha língua tem papilas
Que sentem o paladar
As palavras que aqui se adoçam
São salgadas no além-mar.

Mas não são ácidas
As palavras,
Nem amargas.
São salgadas
Como lágrimas.

Minha língua é romântica,
De um romantismo histórico,
De uma beleza tônica,
De um triste ritmo.

Que de uma paixão mórbida
Pedro deu ao povo
Uma póstuma rainha.
Linda Inês
De alegre nada tinha.
E a plebe fica mais dramática
Na trágica constatação
Ao saber que ela descansa
À direita, e não à esquerda,
(onde fica o coração).

E ela guarda a esperança
De rever o amado,
E daí nasceu o fado,
Que é um gostar de
chorar,
(Mas não de verdade)
E gostar da dor remoer
Mas só aquela que desatina
sem doer.

E no tempo de Camões
Quando começaram as navegações
O fado embalou a saudade
Das damas na praia a esperar
Que seu amado
Regressasse do mar.

E pediam a Fátima, em segredo,
E faziam juras de amor
(com medo)
E só preto iriam pôr
E nenhum outro vestido
De nenhuma outra cor.
Só o preto existirá
Enquanto o amado não voltar.

E a moça, de luto,
Espera no porto
Sem saber se vinha,
Espera na praia
Sem saber se morto
Ou se vivo estaria

Ah, por que tudo é tão triste?

Cá, o samba chora no cavaco
O índio chora no mato,
O mulato no baião
A triste seca do sertão.

O sertanejo na viola
A saudade da terra chora
E a bossa do Rio,
Cheia de tristeza,
Chora pela moça que passou
E foi embora.

E por essas e outras
Qualquer Pessoa diria
Seja em Lisboa ou em Brasília
Que pátria verdadeira
(Lusitana, africana ou brasileira)
É a beleza
Da nossa língua portuguesa.

Renan, 2008

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