sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Três poemas de Iulio Ypiranga



Biografia

Nasci em tempos remotos,
Quando o homem tinha tempo de ser completo
E prolixo.

Embriaguei-me no sangue de nosso segundo Dionísio,
Aquele que foi viver em nossos arbustos e arvoredos,
Entre jabuticabeiras e pitangueiras
Da outrora ilha mítica Hy Brazil,
Agora “ilha” continental,
Minha terra natal de onde nunca saí.

Fui o último da tribo a evocar os poderes luxuriosos de Pã
(Io, Pã! Io, Pã!)
Antes que ele morresse.

Devorei a carne de meus ascendentes e irmãos antropófagos
Até roer seus ossos,
Para, além de absorver a valentia daqueles últimos guerreiros,
Puni-los, principalmente, por renegar nossos velhos costumes.

Depois me misturei às mazelas brancas,
Romanas, Lusitanas,
Protocristãos,
Pagãos de toda a parte
Degredados ao Novo Mundo, minha velha terra,
Abandonados à Sorte para morrer.
Entre eles eu era o Mestiço.

Na modernidade, meu tempo encarcerado
(Não quero falar sobre isso)

Hoje minha alma cumpre pena no meu corpo,
O costume outrora fiel à natureza
É doravante tardio.





Epicurismo e hedonismo 69’

Saber viver
E gozar
Xamanicamente
Os desejos do corpo,

Dionisicamente dividindo,
Roubando essências,
Orgasmos;
Gastando a força vital
Até não poder mais
Se manter acordado.

E morrer jovem!

Rogar e roer da vida
O que de mais prazeroso houver,
Consciente, mas...
Kilometricamente desmedido.




Pânico

Io Pã, Io Pã! – canta o homem pastoril temente, com medo, paralisado na obscura floresta de seus pensamentos.

Hermético! tal qual a alquimia dos anciãos!

Sua Pedra floresce pelo desejo,

Petrificado diante de sua lasciva musa que lhe ordena:

- Decifra-me, mortal!
 


Iulio Ypiranga



Da nova série neste blog: Sociedade dos Poetas Anônimos. Poetas que não divulgam seus nomes. Pseudônimos e heterônimos. Textos descobertos por acaso.

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