quinta-feira, 31 de março de 2016

Heróis dos quadrinhos: Watchmen

Na primeira enquete realizada aqui, o tema vencedor com 75% dos votos foi “heróis dos quadrinhos”. Este então é o tema desta postagem.

Watchmen (de Alan Moore)

Espaço-tempo: Estados Unidos, década de 1980, auge da Guerra Fria.

Este HQ, também chamado graphic novel (romance visual) aborda como questão central a seguinte pergunta: se super-heróis, com poderes ilimitados, existissem na vida real, quem ou qual instituição seria capaz de regulamentar suas ações e julga-los? Isto é: “Quem vigia os vigilantes?”.

Sendo tão poderosos, além de toda força humana – ainda assim sendo humanos emocionalmente imperfeitos – como controlar seus atos? Suas emoções pessoais combinadas à super força que eles detêm poderiam causar algum prejuízo à sociedade? Seriam eles foras-da-lei, julgando-se acima da Lei para realizar seus objetivos?

Este enredo mistura verossimilhança a elementos de fantasia. Podemos falar aqui duma realidade paralela que nos aproxima do real e nos leva a refletir sobre a História e outras questões como o poder, a justiça, a liberdade etc.

De todos os heróis envolvidos nesta HQ, o Dr. Manhattan é o único que possui poderes supernaturais. Após um acidente de laboratório sua forma humana se desmaterializa. Sua condição passa a ser a de um homem azul que manipula a matéria de acordo com a sua vontade. Além disso, ele enxerga o futuro, entendendo o tempo como algo relativo (personagem construído a partir das teorias de Einstein). Este é um correlato do Superman, um super-herói com poderes ilimitados.

Os demais são seres humanos “comuns”:

- Coruja, que além de habilidades em luta, possui domínio de tecnologias avançadas (uma espécie de Batman, mas muito tímido e inseguro);

- Rorschach (nome do teste de livre-associação), um personagem com graves traumas psicológicos, detetive, habilidoso, mas que se julga incapaz de conviver em sociedade, em suma, um misto de justiceiro e (quase) sociopata;

- Espectral, uma mulher que segue os passos de sua mãe na “carreira” de super-heroína, mas vive problemas emocionais por desconhecer a identidade de seu pai;

- Comediante, um homem que segue seus instintos, vive segundo a sua vontade, luta e usa armas para combater o crime e encara a vida como uma grande piada de mau gosto;

- Ozymandias, conhecido como o "homem mais inteligente do mundo".

Nesta realidade paralela construída para os quadrinhos, os EUA venceram a Guerra do Vietnã graças à ajuda desses heróis, em especial o Dr. Manhattan, a quem muitos batalhões vietnamitas se renderam.

Mas após esse episódio a preocupação deles passa a ser outra: deter a Guerra Fria e a extinção de toda a humanidade. O final para esta questão e para os dramas pessoais de cada herói é surpreendente.

Se eu me estender mais nesta postagem, acabarei analisando e, consequentemente, revelando surpresas desse drama. Portanto deixo as análises a cargo dos que ainda lerão esta obra premiada, polêmica e envolvente de Alan Moore.

Também vale a pena assistir ao filme Watchmen, baseado nos quadrinhos. Na trilha sonora: Bob Dylan, Paul Simon, Jimi Hendrix etc.

Filme: Watchmen















Para ler mais sobre "heróis" neste blog, clique nos marcadores ao final desta postagem. Também no link a seguir: Narratologia.

terça-feira, 22 de março de 2016

Blog Interlúdico (novidades e como navegar)

Agora você pode seguir o Interlúdico por e-mail. Para isso basta inserir o seu e-mail na barra que fica no canto superior à direita e clicar em submit. Pronto! Você receberá via correio eletrônico um aviso quando houver uma nova postagem.

Outra novidade é a enquete. Esporadicamente, o blog lançará enquetes aos seus leitores.

Lembrando que em arquivo do Interlúdico você tem acesso a todo histórico de postagens do blog, podendo pesquisar e visualizar qualquer texto já publicado aqui. O Interlúdico inaugurou em abril de 2011. Com esta, são ao todo 175 postagens.

Outra ferramenta de pesquisa são os marcadores. Ao clicar numa das palavras que aparecem marcadas, o blog o levará a todas as postagens que contenham a mesma palavra-chave.

Os marcadores, a opção comentar e a opção compartilhar (por e-mail, Twitter, Facebook etc) aparecem no retângulo branco ao final de cada postagem.

E em postagens mais acessadas você tem a lista com links que facilitam o acesso a essas postagens.

Se você procura uma interação lúdica com as Artes, seja bem-vindo. É de graça.

Obrigado pela sua visita!

quinta-feira, 17 de março de 2016

Humanas: 4 cursos que...

Se você é curioso, gosta de ler e aprecia as artes, estes são os quatro cursos das Ciências Humanas que, a meu ver, transformarão a sua visão de mundo:


Psicologia – é uma ciência humana por excelência. Busca o resgate daquele sujeito que, por algum motivo, julga-se perdido em alguma área da sua vida. O psicólogo ouve, avalia o caso (individual ou coletivo) e orienta. Em última análise, é o profissional encarregado de encaminhar o sujeito à busca de sua autorrealização, à procura da felicidade.

Atua em clínicas, hospitais, empresas públicas e privadas.


Letras – O conhecimento humano define-se, dentre outras coisas, pela linguagem. O profissional de Letras é um especialista na leitura, análise e ensino da língua e seus diversos códigos. Estuda a comunicação oral e escrita considerando o conteúdo e a estética textual. Reflete sobre os conceitos de significado, cultura e expressão.

Atua em escolas, faculdades, universidades, editoras etc.


Filosofia – É um conhecimento multidisciplinar por definição. Lida com questões humanas, naturais e metafísicas. Investiga o próprio conceito de “conhecimento”. Pondera sobre a essência do ser, da ética, da política, da estética e da felicidade. Em suma, encarrega-se das primeiras e mais profundas questões existenciais.

Atua em escolas, faculdades e universidades.


História – Registra e reflete sobre as ações humanas ao longo do tempo e suas implicações. Considera as transformações políticas, econômicas, culturais e sociais. É a literatura dos fatos conhecidos e gerais. Ao lado das Letras, também é uma disciplina fundamental para todos os demais campos das Ciências Humanas.

Atua em escolas, faculdades, universidades e empresas.




segunda-feira, 14 de março de 2016

Os olhos dos pobres (Baudelaire)

Quer saber por que a odeio hoje? Sem dúvida lhe será menos fácil compreendê-lo do que a mim explicá-lo; pois acho que você é o mais belo exemplo da impermeabilidade feminina que se possa encontrar.

Tínhamos passado juntos um longo dia, que a mim me pareceu curto. Tínhamos nos prometido que todos os nossos pensamentos seriam comuns, que nossas almas, daqui por diante, seriam uma só; sonho que nada tem de original, no fim das contas, salvo o fato de que, se os homens o sonharam, nenhum o realizou.

De noite, um pouco cansada, você quis se sentar num café novo na esquina de um bulevar novo, todo sujo ainda de entulho e já mostrando gloriosamente seus esplendores inacabados. O café resplandecia. O próprio gás disseminava ali todo o ardor de uma estreia e iluminava com todas as suas forças as paredes ofuscantes de brancura, as superfícies faiscantes dos espelhos, os ouros das madeiras e cornijas, os pajens de caras rechonchudas puxados por coleiras de cães, as damas rindo para o falcão em suas mãos, as ninfas e deusas portando frutos na cabeça, os patês e a caça, as Hebes e os Ganimedes estendendo a pequena ânfora de bavarezas, o obelisco bicolor dos sorvetes matizados; toda a história e toda a mitologia a serviço da comilança.

Plantado diante de nós, na calçada, um bravo homem dos seus quarenta anos, de rosto cansado, barba grisalha, trazia pela mão um menino e no outro braço um pequeno ser ainda muito frágil para andar. Ele desempenhava o ofício de empregada e levava as crianças para tomarem o ar da tarde. Todos em farrapos. Estes três rostos eram extraordinariamente sérios e os seis olhos contemplavam fixamente o novo café com idêntica admiração, mas diversamente nuançada pela idade.

Os olhos do pai diziam: "Como é bonito! Como é bonito! Parece que todo o ouro do pobre mundo veio parar nessas paredes." Os olhos do menino: "Como é bonito, como é bonito, mas é uma casa onde só entra gente que não é como nós." Quanto aos olhos do menor, estavam fascinados demais para exprimir outra coisa que não uma alegria estúpida e profunda.

Dizem os cancionistas que o prazer torna a alma boa e amolece o coração. Não somente essa família de olhos me enternecia, mas ainda me sentia um tanto envergonhado de nossas garrafas e copos, maiores que nossa sede. Voltei os olhos para os seus, querido amor, para ler neles meu pensamento; mergulhava em seus olhos tão belos e tão estranhamente doces, nos seus olhos verdes habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando você me disse: "Essa gente é insuportável, com seus olhos abertos como portas de cocheira! Não poderia pedir ao maître para os tirar daqui?"

Como é difícil nos entendermos, querido anjo, e o quanto o pensamento é incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!


Charles Baudelaire
De Le "Spleen" de Paris
 (O "tédio/melancolia de meados do século" de Paris); 
Les Petits Poèmes en prose (Os pequenos poemas em prosa), 1869.

Nota pessoal: Conheci este poema há poucos anos por intermédio de um amigo que faz Doutorado em Direito na UBA (Universidad de Buenos Aires - Argentina). Um professor de lá recomendou à turma de doutorandos a leitura deste poema.