quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A obsessão do sangue

Acordou, vendo sangue... — Horrível! O osso 
Frontal em fogo... Ia talvez morrer, 
Disse. olhou-se no espelho. Era tão moço, 
Ah! certamente não podia ser! 

Levantou-se. E eis que viu, antes do almoço, 

Na mão dos açougueiros, a escorrer 
Fita rubra de sangue muito grosso, 
A carne que ele havia de comer! 

No inferno da visão alucinada, 

Viu montanhas de sangue enchendo a estrada, 
Viu vísceras vermelhas pelo chão ... 

E amou, com um berro bárbaro de gozo, 

o monocromatismo monstruoso 
Daquela universal vermelhidão!


(Augusto dos Anjos)

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